Fábrica Confiança. CDU pede “coragem” aos presidentes de junta na votação

Esta sexta-feira há Assembleia Municipal extraordinária e, entre os assuntos, o destaque vai para a polémica proposta de alienação da antiga Fábrica Confiança. Já com a aprovação em sede de executivo municipal, segue-se a hora dos deputados da Assembleia Municipal tomarem uma decisão final sobre a antiga fábrica, que no futuro pode ser requalificada e “ampliada” para alojamento privado para estudantes. Há poucas semanas, Ricardo Rio anunciou que afinal a alienação só poderia servir para dar lugar a alojamento privado para universitários. Se a alienação por si só já provocava ondas de contestação na sociedade bracarense, o anúncio da construção de um edifício com sete andares nas traseiras da antiga fábrica gerou novos protestos da sociedade civil. Mas, olhando para o histórico recente, Braga já se habituou a movimentações de cidadãos contra o executivo da coligação Juntos por Braga. Foi assim com o antigo S. Geraldo, repetiu-se com a autorização de construção de um supermercado no centro histórico e agora com a antiga saboria, edifício que “preserva a memória industrial da cidade de Braga”, reiteram os partidos da oposição e Plataforma Salvar a Fábrica Confiança.
Voltando ao tema da proposta de alienação da Confiança, a mesma passou em sede de executivo municipal,onde saltou à vista a abstenção da vereadora da maioria, Lídia Dias. Hoje, a mesma proposta deverá ser aprovada com a mesma facilidade, uma vez que a assembleia é representada, na sua maioria, pela coligação Juntos por Braga (PSD/CDS-PP/PPM). Há, no entanto, votos contra certos: o do presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, Ricardo Silva e os dos deputados do Partido Socialista, do Bloco de Esquerda e da CDU.
No seio da oposição à coligação Juntos por Braga, a possibilidade de reprovação da proposta em sede de Assembleia Municipal reside nos votos dos presidentes de junta de freguesia. A deputada comunista Bárbara Seco de Barros sugere que está agora nas mãos dos autarcas um desfecho diferente.
DEPUTADA DA CDU PEDE “POSIÇÃO DE CORAGEM” AOS PRESIDENTES DE JUNTA
O dia é longo e a deputada da CDU, Bárbara Seco, lembra os presidentes de junta que ainda estão a tempo de votar contra a proposta da autarquia.
“Desconfiamos totalmente deste negócio. Os objectivos da maioria são contra o interesse público”, começa por referir Bárbara Seco. Aos microfones da RUM, a deputada municipal lembrou o exemplo do presidente independente da junta de freguesia de S. Victor, que contesta a decisão da autarquia, ainda que tenha sido eleito pela coligação Juntos por Braga. “Esperamos contar com a solidariedade dos presidentes de junta, que hoje possam tomar uma posição de coragem na defesa de todos os seus fregueses, também como bracarenses. Aquele património é hoje nosso. A partir do momento em que a Fábrica for vendida deixa de ser património dos bracarenses e quem comprar vai usar como entender. Esperemos que hoje os presidentes de junta se possam juntar na defesa da sua cidade”, apelou.
DEPUTADA DO BE ADMITE “POSIÇÃO INGRATA” DOS PRESIDENTES DE JUNTA
O Bloco de Esquerda vai votar contra. Alexandra Vieira, a propósito do repto lançado pela CDU, admite que o actual modelo de atribuição de verbas às juntas, “coloca os presidentes numa posição ingrata de estar sempre de chapéu na mão e dependentes da boa vontade de quem decide atribuir o apoio financeiro”. Para a deputada municipal, a situação “retira autonomia, liberdade e margem de acção aos presidentes de junta que, muitas vezes, ponderam o seu sentido de voto, porque temem que isso se possa reflectir nos montantes financeiros que são atribuídos às suas freguesias“.
“RICARDO RIO PASSOU DE DEFENSOR MAIOR DA CONFIANÇA PARA PROMOTOR IMOBILIÁRIO” – PEDRO SOUSA
Já o líder da bancada socialista, Pedro Sousa, recorda que a Confiança “foi a única matéria política em Braga, em muitos anos, que reuniu consenso entre todos os partidos e a própria sociedade civil”. O socialista critica também o facto deste assunto ser votado numa assembleia municipal extraordinária, em que os cidadãos não poderão intervir. Acusando o poder municipal de ter prioridades “absolutamente erradas”, o deputado da Assembleia Municipal afirma que Ricardo Rio “ganhou um ódio de estimação à Fábrica Confiança”, acusando-o de não procurar soluções nem ouvir ninguém.
Admitindo que a proposta dificilmente será chumbada nesta assembleia municipal, Pedro Sousa lamenta a posição dos presidentes de junta. “É triste, mas não é nada de novo. Não lhes estou a fazer nenhuma crítica. É o modelo que está mal. Os presidentes de junta votam em função do que são as orientações da Câmara Municipal, porque ao fim do dia terão de negociar com a câmara municipal os orçamentos e obras para as freguesias. E há uma visão de castigar aqueles que pudessem, de alguma maneira, talvez divergir dessa orientação”, acrescenta.
Muito crítico da postura de Ricardo Rio neste dossier, Pedro Sousa classifica o autarca como “um verdadeiro contorcionista político, passando de defensor maior da Confiança para promotor imobiliário que nunca quis verdadeiramente ouvir ninguém”.
Ricardo Rio, Firmino Marques e Miguel Bandeira são os responsáveis que saem beliscados de todo este processo, na óptica do socialista.
A RUM tentou contactar o presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, Ricardo Silva, mas sem sucesso até ao momento.
Se a proposta for aprovada hoje, Ricardo Rio poderá resolver de vez o problema e agendar a hasta pública. O negócio do alojamento universitário privado é apetecível e deverão surgir vários compradores interessados em adquirir o imóvel cuja base de licitação começa nos três milhões e seiscentos mil euros.
Tal como a RUM noticiou na semana passada, este segmento de mercado está a crescer em Portugal gerando milhões de euros de lucro. Braga é, por enquanto, a única grande cidade do país sem qualquer alojamento com estas características.
Tendo em conta que o ponto será votado em sede de Assembleia Municipal extraordinária, o público não pode intervir. A Plataforma Salvar a Fábrica Confiança já disse que vai estar à porta da AM de hoje para contestar a intenção da autarquia.
