Manuel de Lima Bastos doa 1.ª edição de 5 livros de Aquilino Ribeiro ao ILCH

“Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha (…)”.

O excerto da obra “Terras do Demo”, de Aquilino Ribeiro, que assinalou em 2019 o seu centenário, fará agora parte da prateleira da Biblioteca Vítor Aguiar e Silva, do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH).

Além desta obra, foram ainda doadas mais quatro livros (“Jardim das Tormentas”, “A Via Sinuosa”, “Filhas de Babilónia” e “Estrada de Santiago”), todos primeiras edições, do escritor que marcou a primeira metade do século XX na literatura portuguesa. A sessão de doação decorreu, esta quinta-feira, na Biblioteca Vítor Aguiar e Silva.

O doador, Manuel de Lima Bastos, deixou ainda a reprodução de um LP de 1959, com Aquilino Ribeiro a proferir o capítulo nono de “O Malhadinhas”, bem como os dois volumes “Retrato de Aquilino – Pintura sobre Palavras” (2013, 2017), assinadas por si.

A propósito do centenário de “Terras do Demo” e pela velha ligação à cidade de Braga, onde viveu e estudou entre 1950 e 1957, período do qual guarda “uma recordação adorável”, Manuel de Lima Bastos, por intermédio de José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores e membro do Conselho de Curadores da UMinho, decidiu doar os livros ao Instituto de Letras e Ciências Humanas.

A ligação de Manuel de Lima Bastos a Aquilino Ribeiro começa aos 8 anos, quando o pai lhe ofereceu o livro “Cinco Reis de Gente”. “A partir daí li, reli e tresli Aquilino. Quando me afastei da advocacia comecei a escrever sobre Aquilino e ganhei um prémio literário e com o apoio do filho do escritor, Aquilino Ribeiro Machado, e mais três ou quatro figuras produzi mais 11 livros sobre Aquilino Ribeiro”, disse à RUM o doador.

As duas edições de “Retrato de Aquilino – Pintura sobre Palavras”, a primeira de 2013, a segunda de 2017, são, segundo Manuel de Lima Bastos, “comentários à obra de Aquilino”. “Procurei tratar a obra não numa perspectiva de ensaísta, nem de crítico literário, mas de um divulgador”, afirmou o autor.

“Sem dúvida que é no contexto desta biblioteca que estas obras farão todo o sentido”

Presente na sessão esteve José Manuel Mendes, para quem Manuel de Lima Bastos “é um contador de histórias”.

“O que ele faz não é tanto um ensaio, com as carcaterísticas a que estamos habituados, mas uma revisitação da obra, a partir de um exercício hermenêutico, onde vemos, a cada momento, emergirem informações preciosas, quase desconhecidas. Para um retorno a Aquilino Ribeiro é impensável a não leitura dos muitos livros que publicou”, apontou o responsável pela Associação Portuguesa de Escritores, que teve como primeiro presidente Aquilino Ribeiro.

A vice-reitora para a Cultura e Sociedade, Manuela Martins, não deixou de “agradecer a generosidade” da doação “das primeiras edições a uma biblioteca de referência da UMinho”, que, assim, “enriquece o património bibliográfico da universidade”. “Sem dúvida que é no contexto desta biblioteca que estas obras farão todo o sentido”, finalizou.

Também Isabel Ermida, presidente do ILCH, salientou a “honra” e o “enriquecimento” que as obras trazem à biblioteca do Instituto. “Aquilino é um grande escritor da primeira metade de século XX, mas talvez esteja um bocadinho esquecido e devemos renovar o interesse para redescobrir e revisitar a obra dos grandes nomes da literatura portuguesa”, finalizou.

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Liliana Oliveira
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Sara Pereira
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