“Deve ser proibido fumar nos campi das universidades”

“Deve ser proibido fumar nos campi das Universidades”. Esta é a opinião de José Precioso, professor auxiliar do Instituto de Educação da Universidade do Minho e coordenador do estudo “Prevalência de crianças portuguesas expostas ao fumo ambiental do tabaco em casa e no carro”. O investigador é o convidado desta semana do programa UM I&D, da Universitária, no âmbito do Dia Mundial Sem Tabaco que se assinala a 31 de Maio.
Porque deve ser proibido fumar nas universidades portuguesas?
Segundo os dados divulgados pelo Health Behaviour in School-aged Children, o número de jovens fumadores com 11, 13 e 15 anos “está estável há oito anos”. Os dados que medem o consumo, por semana, de tabaco indicam que 11% dos rapazes e 9% das raparigas fumaram pelo menos um cigarro, sendo que no caso do sexo feminino a percentagem tem vindo a subir.
José Precioso frisa que devido ao “ambiente escolar mais protector, uma vez que é proibido fumar em toda a escola, até ao ensino secundário o número de jovens fumadores estabilizou”. Contudo, quando a amostra em análise são os alunos do ensino superior “o consumo de tabaco dispara”.
Actualmente, olhando para o exemplo da Universidade do Minho, apenas é proibido fumar no interior dos espaços da academia minhota. Ora, para o investigador essa norma devia ser alargada a todo o campus.”Muitos adolescentes quando chegam ao ensino superior não fumam, mas entram num ambiente onde essa prática é normal. 1 em cada 5 estudantes é fumador. Isto é algo que não deveria ser normal“, declara.
O investigador adianta que a sua equipa tem “estudos observacionais” que demonstram que a maioria dos fumadores não utiliza os cinzeiros. “Alguns destes alunos são os futuros professores deste país. Vão levar este tipo de comportamentos para as portas das escolas o que fará com que esta conduta seja normalizada quando na verdade é anormal”, defende.
Porque a lei da proibição de venda de tabaco a menores não é eficaz?
“A Direcção-Geral de Saúde tem sido pouco ambiciosa no que toca a implementar medidas para proibir a exposição das crianças ao fumo. É temerosa”, afirma. Recorde-se que um cigarro contém mais de 60 substâncias cancerígenas.
Para o docente, a primeira razão que explica o facto de 73% dos jovens considerarem “fácil” comprar tabaco, prende-se com a existência de máquinas de venda automática.
“É fácil furar a lei em Portugal. Conseguimos comprar tabaco em qualquer esquina, nomeadamente perto de escolas. Havendo máquinas por exemplo em cafés, óbvio que o tabaco acaba por estar mais acessível aos jovens. Os nórdicos controlaram esta situação com a implementação de lojas específicas para comprar tabaco”, explica.
Outra medida considerada eficaz pelo docente, e que iria fazer baixar o consumo de tabaco em Portugal, seria o aumento avultado do preço dos maços de cigarros. Recorde-se que o estado arrecada cerca de 80% das receitas das vendas de tabaco em Portugal. De sublinhar que também as despesas para tratar doentes com cancro do pulmão têm aumentado. Segundo a International Agency for Research on Cancer, em 2018, morreram 4.600 portugueses devido a esta patologia.
José Precioso considera ainda premente que seja realmente proibido fumar nos parques infantis. Nos dias de hoje continua a faltar sinalética a alertar para essa proibição. “Continuam a existir sinais de fumo (pontas de cigarro) perto destes equipamentos”, alerta.
Em Braga é estimado que 10% das crianças sejam expostas ao fumo do tabaco.
O estudo “Prevalência de crianças portuguesas expostas ao fumo ambiental do tabaco em casa e no carro”, publicado em 2019, divulga dados representativos da situação a nível nacional. De acordo com o coordenador do projecto, “13% das crianças portuguesas até aos 9 anos estão expostas diariamente ao fumo do tabaco em casa e no carro”. Os Açores são a região mais preocupante em que “1 em cada 3 crianças está exposta ao fumo, ou seja, cerca de 30% das crianças do território insular”.
No caso específico de Braga, de acordo com dados mais antigos, é estimado que 10% das crianças sejam expostas ao fumo do tabaco, valor que coloca a região abaixo da média nacional. No geral, os números são animadores, uma vez que têm decrescido. “Tem sido uma guerra ganha”, garante José Precioso.
Todavia, o docente da UMinho considera que Portugal podia “ir mais além”, sobretudo no que diz respeito a avançar com a proibição de fumar dentro dos carros. “Há falta de coragem política. Nós temos trabalho feito, mas a DGS está à espera de direcções da Organização Mundial de Saúde ou então de uma moda que venha de fora. 90% dos portugueses considera que deve, sim, ser proibido fumar no automóvel”, refere.
