“O sector da cultura já tinha o vírus, mas era assintomático” – Rui Madeira
O director da Companhia de Teatro de Braga (CTB) lembra que os problemas no sector cultural já existiam antes do vírus. Rui Madeira, uma das vozes que mais vezes se levanta contra os sucessivos governos e a forma como encaram o sector da cultura, afirma que “é preciso perceber que o vírus já lá estava, mas era assintomático”.
Abordando a mais recente “manifestação pública da desgraça do sector”, Rui Madeira avisa que a situação “corresponde a anos de desinteresse, de aproveitamento dos sucessivos governos”. O director e actor refere que a maioria dos trabalhadores estão a recibos verdes, porque o Governo se “aproveita” desta situação “de uma forma desonestíssima”.
Tomando como exemplo da Companhia de Teatro de Braga, estrutura com custos sociais muito grandes – paga cerca de 8 mil euros de Segurança Social e Finanças – o que significa que 30% do que o Estado garante , reverte para o Estado. Rui Madeira sublinha que se trata de “uma situação residual porque o Estado tem vindo paulatinamente a cortar as possibilidades deste tipo de modelo de funcionamento”.
“Temos custos sociais muito fortes. Se recebermos 350 mil euros do Ministério, 30% disso volta para o Estado, mas ao mesmo tempo dá segurança às pessoas que trabalham. A CTB tem actualmente 18 pessoas a trabalhar, onze delas na Segurança Social. Por isso, avisa Rui Madeira, “se o Estado não criar linhas de apoio para uma empresa como esta, o que pode acontecer é que vão todos para a Segurança Social, com subsídio de desemprego, “o que custa mais ao Estado”.
“O sector é diverso, grande parte vive a recibos verdes, mas há outras estruturas que não vivem de recibos verdes e nós somos das poucas estruturas que está nesta situação. Os teatros nacionais, por exemplo, infelizmente não têm companhias estáveis, contratam elencos, e essa questão faz toda a diferença”, clarifica.
A CTB, apesar da actual situação e das perdas de vendas de espectáculos e de bilheteiras, “tem alguma base de segurança porque tem contribuições para a Segurança Social”, nota.
