“É muito difícil fazer cinema” – José Oliveira, realizador bracarense

Aos 37 anos, José Oliveira, natural de Braga, prepara-se para a estreia do seu primeiro filme – Os Conselhos da Noite – nas salas de cinema do país. O realizador escreveu o guião em 2014, conseguiu filmar em 2019 e, um ano depois, a longa-metragem vai estrear nas salas de cinema do país, num ano atípico e numa altura em que os espectadores começam a regressar timidamente às salas. Trata-se do primeiro filme desta dimensão gravado integralmente na cidade de Braga.
A história de ‘Roberto’, personagem principal interpretada por Tiago Aldeira, baseia-se na experiência do próprio realizador e de “muitos jovens que saíram de Braga há dez, quinze e vinte anos e que regressavam ciclicamente e iam encontrando novidades”.
“Cresci num contexto de uma Braga muito diferente, muito mais cinzenta, um pouco estagnada em que as coisas mais interessantes se passavam meio clandestinas. Sempre que vinha a Braga sentia que aquela clandestinidade ia saindo para a rua, com muito mais jovens, e as coisas começaram a passar-se mais às claras e tornaram-se comuns. É uma viagem no tempo, é um filme de alguém que regressa a casa”, resume José Oliveira.
“É uma descoberta de Braga, do que era antes e do que é depois”, refere. Descartando a ideia de um filme turístico em que se vende “qualquer coisa”, José Oliveira refere que a ideia passou por mostrar um filme “honesto, que quem conhecesse Braga pudesse ver a verdade daqueles lugares, e quem não conhecesse, pudesse conhecer os dois lados porque, apesar de tudo, passa por sítios icónicos”. Um filme que é também “uma luta entre o escuro e a luz do dia”.
Em entrevista à RUM, Oliveira confessa que “fazer filmes nunca é fácil” porque o cinema “é muito mais caro” e diz até que a sorte ajudou neste novo desafio. “Fiz agora este filme, tenho outro com a Marta Ramos que vai estrear em Outubro no Doclisboa, Festival Internacional de Cinema, mas isto não acontece todos os dias”, reconhece.
O orçamento do primeiro filme de José Oliveira ronda os 150 mil euros. Actualmente a dar aulas de cinema em Cascais, o realizador teve dificuldades em encontrar financiamento para o filme, que também recebeu vários chumbos ao longo do tempo. “Foi surpreendente. Escrevi este guião em 2014 com o João Palhares e isto passa por um concurso no Instituto de Cinema e Audiovisual. Conheci o Daniel Pereira, de uma produtora nova, The Stone and The Plot e apresentei este “guião de paixão, decidi arriscar”, assume. Numa visão humilde, o realizador considera que “depende um bocado dos júris” e que teve “sorte, calhou”.
Ainda antes de ter na sua mão o subsídio para o filme, João Oliveira já tinha garantido o apoio do Município de Braga, assim como de vários espaços da cidade. “Toda a gente se disponibilizou e quis participar com gosto”, refere.
Outra das características do filme – “Os Conselhos da Noite” – passa pelo peso da realidade para qualquer bracarense que assista a esta história. “Podia ter usado em todas as cenas actores profissionais, seria mais fácil filmar e eu preferi em quase todas as cenas usar actores amadores e pessoas reais, de Braga, porque tem um peso de realidade que era aquilo que eu queria”, explica.
Ligado ao cinema há vários anos, José Oliveira é professor na área, mas tem outras ambições. Apesar de assumir que dar aulas é “magnífico”, o bracarense quer mais. ”Gostava muito de voltar a fazer cinema e o meu conselho é não desistir”, diz.
