“Tomaria a vacina contra a Covid-19 hoje, se pudesse”

Jorge Pedrosa não tem dúvidas: “Tomaria a vacina contra a Covid-19hoje, se pudesse”. “Quando chegar a minha altura não terei qualquer dúvida”, reforçou.
Esta é a mensagem de tranquilidade que o especialista pretende passar aos cidadãos, que temem os efeitos adversos da vacina e, por isso, estão reticentes quanto à vacinação. Recorde-se que, há poucos dias, um estudo da Universidade Católica Portuguesa demonstrava que “apenas 61% dos portugueses assumia tomar a vacina quando fosse possível”.
Em entrevista à RUM, o vice-presidente da Escola de Medicina referiu que “quando existe uma vacina contra doenças infecciosas essa é a melhor forma de evitar a doença”. A história mostra que vacinas contra, por exemplo, o ébola ou o sarampo “são tão boas que a carga da doença é muito baixa”. Antes da vacina, os resultados são ainda mais notórios, uma vez que “morriam muitas crianças com doenças, que agora são evitadas com vacinas”.
As vacinas desenvolvidas para combater o novo coronavírus “são muito inovadoras e, por isso, foram produzidas com tanta rapidez”. Uma vacina demora, em média, “entre 10 a 20 anos a ser desenvolvida”. Do que há memória, a mais rápida terá sido a vacina contra o ébola, que demorou cerca de “seis anos”. No entanto, lembra o médico, “nunca houve tantos meios financeiros colocados à disposição da ciência para desenvolver uma vacina”. Por isso, a esperança contra a pandemia surgiu cerca de dez meses depois das primeiras experiências.
Jorge Pedrosa fala de uma “tecnologia revolucionária”, que, por ter corrido “tão bem”, poderá “vir a servir de base para outras vacinas contra outras doenças”. “Os dados mostram percentagens de protecção de 95% e mostra efeitos adversos muito baixos e sem qualquer gravidade, estando em causa efeitos como dor no local da injecção, dor de cabeça ou aumento da temperatura”.
No entanto, convém lembrar que “não há nenhuma vacina que não tenha probabilidade de ter efeitos adversos”. Ainda assim, explicou, “quando comparamos isso com a probabilidade de, havendo infecção, surgirem sequelas graves ou morte, os efeitos adversos são muito pouco relevantes”.
“Se alguma vacina é melhor do que a outra, só o tempo o dirá”
Muitas dúvidas têm surgido e nem todas terão resposta, pelo menos para já. A diferente eficácia das vacinas já aprovadas é uma delas. Segundo o professor da Escola de Medicina, as vacinas produzidas pela Pfizer e Moderna “serão bastante semelhantes, com grau de protecção semelhante”. “Se alguma vacina é melhor do que a outra, só o tempo o dirá”. E por isso mesmo o grupo de 40 mil voluntários continuará a ser seguido. O tempo vai ainda permitir perceber até quando a vacina é eficaz, mas “os efeitos secundários também continuam a ser estudados”. “Não se pode excluir que possam vir a aparecer outros efeitos, mas, podemos comparar, com o tempo que já temos, esta vacina com os efeitos adversos que outras boas vacinas provocam”, acrescentou.
Em termos práticas, a vacina “fornece ao sistema imunológico de cada indivíduo o contacto com um componente do conjunto infeccioso de forma a que se preparare aquele componente para que, quando este encontrar o vírus, já tenha uma resposta contra ele preparada”. “O facto de ser uma vacina que não é um microrganismo em si, mas uma pequena parte dele, também é uma garantia de segurança, há menos probabilidade de vir a acontecer qualquer complicação, provavelmente tem efeitos diferentes em cada um, porque também reagimos de forma diferente às infecções”, acrescentou o especialista.
Quanto às pessoas com determinadas patologias, Jorge Pedrosa alerta para a necessidade das autoridades de saúde determinarem “grupos de risco que não poderão tomar a vacina”. Ainda assim, em causa estará sempre um “grupo pequeno”.
Recorde-se que ainda este mês, a 24 ou 26 de Dezembro, chegam as primeiras 9750 doses da Pfizer/BioNTech e a 5 de janeiro deve ser entregue o primeiro grande lote de 300 mil vacinas.
As primeiras vacinas devem ir para os centros hospitalares de Lisboa Central (que integra São José e Curry Cabral) e de São João, no Porto, para serem administradas a profissionais de saúde.
As últimas informações indicam que a vacinação só acabará para estes em Abril, porque Portugal receberá menos um milhão de doses do que previsto. Só os lares estarão todos vacinados em fevereiro.
