“João Cutileiro rompeu completamente com a tradição da escultura portuguesa”

Nuno Faria, atual diretor artístico do Museu da Cidade do Porto e um dos curadores da exposição “Constelação Cutileiro”, que esteve patente no Centro Internacional das Artes José Guimarães (CIAJG) em 2018, recorda João Cutileiro como alguém que “rompeu completamente com a tradição da escultura portuguesa”.
O escultor, que morreu hoje aos 83 anos, foi, segundo Nuno Faria, determinante na transformação escultórica nacional através do “trabalho diretamente sobre a pedra, utilizando o ferro forjado, introduzindo métodos industriais que marcaram uma rutura e uma renovação na escultura portuguesa”.
Recordando a estadia de vários anos de Cutileiro em Londres, onde se formou na Slade School of Arts, Nuno Faria destaca o período do escultor em Lagos a partir dos anos 80, “onde monta um importante atelier” e no qual Cutileiro provou ser “extraordinariamente influente junto de uma geração de artistas mais novos, como José Pedro Croft e Manuel Rosa”.
João Cutileiro tornou-se conhecido do grande público através dos vários monumentos dispersos por todo o território nacional – como Dom Sebastião, Monumento ao 25 de Abril ou D. Afonso Henriques – mas Nuno Faria lembra os trabalhos menos conhecidos do artista, expostos na mostra “Constelação Cutileiro“, que esteve patente no CIAJG em 2018 com curadoria do próprio Nuno Faria e de Filipa Oliveira.
“Ele foi um extraordinário fotógrafo: fotografou, primeiro profissionalmente e depois em contexto social, toda a geração de artistas dos anos 60, 70 e 80. Também expusemos o desenho e as esculturas menores feitas com materiais pouco habituais. Não é só um artista de escala monumental, é também de pequena escala, mais íntima”, recorda.
João Cutileiro nasceu em Lisboa em 1937, mas vivia e trabalhava em Évora desde 1985, onde está exposta parte significativa da sua obra. “D. Sebastião, em Lagos” é o seu trabalho mais célebre, e polémico, – desafiou o Estado Novo em 1973. Em Guimarães, além da exposição “Constelação Cutileiro”, de 2018, o artista foi autor da obra de D. Afonso Henriques, inaugurada em 2001, que se encontra no Largo da Misericórdia, considerada um “símbolo da contemporaneidade” no Centro Histórico medieval.
