“Receio que a tragédia dos incêndios de 2017 possa voltar a ocorrer”

Quatro anos depois dos incêndios florestais de Pedrógão Grande, em junho, e em concelhos dos distritos de Coimbra e Viseu, em outubro, António Bento-Gonçalves, professor e investigador na Universidade do Minho, alerta que a “tragédia pode voltar a ocorrer”.

O também presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos apresenta hoje, às 18h, na sede da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, o seu mais recente ensaio “Os Incêndios Florestais em Portugal”, no qual são apresentadas as razões climatéricas e de ordem política para o elevado número de incêndios no país nas últimas décadas.

À RUM, António Bento-Gonçalves refere que um dos exemplos da ausência de reformas a longo prazo são os incêndios de 2017, os quais provocaram a morte de mais de 130 pessoas.

“As grandes reformas que foram anunciadas depois desses incêndios foram, pouco a pouco, esbatidas. Infelizmente em Portugal a memória é muito curta e, quando a luz da comunicação social se apaga, os políticos voltam a esquecer-se do drama”, alerta o especialista.

O ensaio do investigador da Universidade do Minho analisa o período entre 1960 e 2019, através do qual é possível verificar que “nunca houve uma visão do médio e longo prazo” para o setor florestal porque as melhorias do “ordenamento do território e a educação florestal das pessoas não se coadunam com ciclos eleitorais de quatro anos”.

Vincando que as “constantes alterações nos organismos e nas políticas florestais inviabilizam a maior rentabilização do setor florestal em termos económicos”, António Bento-Gonçalves explica que “falta uma visão para o interior do país, abandonado nas últimas décadas”, onde existe uma predominância do eucalipto e do pinheiro bravo.

“Mais do que as duas espécies em si, que são altamente inflamáveis, o problema é o facto de serem monoculturas e termos extensas áreas sempre com a mesma espécie. Quando o fogo entra nessas áreas é muito difícil ser combatido”, esclarece, apontando que é necessário “compartimentar a paisagem com pastagens e áreas desarborizadas”, tornando mais fácil a extinção dos incêndios.

Sobre o combate aos incêndios, António Bento-Gonçalves diz que a resposta em Portugal “é muito boa” porque “a esmagadora das ocorrências não atinge sequer um hectar” mas “o exagerado número de ocorrências esgota o sistema de combate”, originando que “1% das ocorrências que fogem aos bombeiros sejam responsáveis por mais de 80% da área ardida, transformando-se nos grandes incêndios florestais”.

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Pedro Magalhães
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Abel Duarte
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