“Está a faltar uma planificação sustentável do Caminho Português da Costa”

É necessária uma maior planificação do Caminho Português da Costa. Quem o diz é o investigador do grupo Galabra – UMinho, Carlos Pazos-Justo, em entrevista ao UMinho I&D. “Os Caminhos de Santiago em Portugal. Políticas públicas e associativas no Caminho Português da Costa” é um trabalho promovido pela Cátedra Institucional do Caminho de Santiago e pelas Peregrinações da Universidade de Santiago de Compostela.
No futuro, o investigador pretende, em conjunto com a sua equipa, perceber e avaliar os efeitos que iniciativas deste género têm nas comunidades locais. O investigador do Centro de Estudos Humanísticos da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da UMinho dá o exemplo de Veneza em que vivem menos de 200 mil pessoas, porém a cidade chegou a ser visitada por mais de 30 milhões de turistas. “Há partes da cidade de Braga que são frequentadas quase em exclusivo por turistas”, alerta. Outra das consequências, por vezes, do fenómeno do turismo é a “privatização do espaço público” por esplanadas.
Sensivelmente desde 2008, o Turismo de Portugal tem apostado numa aliança entre turismo e cultura para dinamizar a economia. “Há um fator que nos surpreender bastante. Quer as câmaras como as associações diziam (nas entrevistas) que o caminho fazia já de forma crescente parte da identidade local das comunidades. Quando sabemos que este é um itinerário recente, promovido aproximadamente desde 2010, estamos a falar de processos muito rápidos”, frisa.
Carlos Pazos-Justo alerta para a possibilidade de os 10 municípios por onde passa o Caminho Português da Costa virem a ´perder` um pouco da sua diversidade, são eles: Porto, Maia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Esposende, Viana do Castelo, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença. “Hoje em dia Santiago de Compostela é vista apenas como a meta dos caminhos”, contudo, a cidade é também a capital da Galiza, é uma cidade universitária e recebeu o título de Capital Europeia da Cultura em 2000.
Estrangeiros são os que mais percorrem os 138 km do Caminho Português da Costa.
A maioria dos peregrinos que percorrem o Caminho Português da Costa são estrangeiros do centro da Europa. De acordo com o investigador, não existem estudos robustos sobre este tema em Portugal, por isso, esta conclusão resulta dos dados disponibilizados pela Oficina dos Peregrinos, ou seja, para esta conclusão só contam os peregrinos que têm como objetivo conseguir a Compostela (certificado de como percorreu pelo menos 100km a pé ou a cavalo ou 200km de bicicleta).
Até 2019, o Caminho Português da Costa era o que mais crescia proporcionalmente na Europa. Uma das explicações pode estar no aeroporto Francisco Sá Carneiro, visto que este percurso tem início na cidade invicta onde todos os anos chegam milhares de turistas.
“Sabemos em função das nossas entrevistas que a motivação mais esperada, a religiosa, não é a mais apontada (nas entrevistas). Aparece, sim, a componente espiritual, o convívio, lazer, natureza ou inclusive o desporto”, elenca.
Caminho de Fátima pode estar a ser influenciado pelo Caminho de Santiago.
Questionado sobre as possíveis comparações entre o Caminho Português da Costa e os Caminhos de Fátima, o investigador refere que poderá estar a acontecer uma “contaminação positiva”, no sentido de os Caminhos de Fátimas estarem a adotar dinâmicas como o estabelecimento de etapas, outro género de objetivos mais contemplativos ou paisagísticos.
