Terminou o Conselho Europeu. “Há muito trabalho a fazer em relação à energia”

Na conferência de imprensa no final do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que há ainda “muito trabalho a fazer” em relação à situação energética. A responsável sublinhou, no entanto, que houve “apoio alargado” ao roteiro proposto por Bruxelas.
Em reação ao que foi discutido no Conselho Europeu, Emmanuel Macron afirmou que se a guerra na Ucrânia continuar, a União Europeia deve mostrar as suas capacidades “junto da Rússia”.
“Podemos enfrentar o inverno seguinte sem o gás russo e, por isso, decidimos várias medidas”, como a redução do preço do gás.
“E para baixar o preço do gás temos que ter um ‘medidor’ mais honesto”, anunciou.
“Hoje há uma enorme especulação neste mercado, o que fez com que os preços subissem tanto nas últimas semanas. Por isso, chegamos a acordo na criação de um novo índice, de um novo padrão para os preços do gás”, explicou.
O segundo ponto, apresentado pelo presidente francês e discutido entre os 27, é a criação de “uma série de corredores de preços para lutar contra a volatilidade dos mercados”.
“Queremos criar um mecanismo para lutar contra a especulação deste mercado”, salientou Macron.
Paralelamente, foi reafirmada a necessidade das “compras comuns” de gás e eletricidade entre os Estados-membros e a de “alargar o mecanismo ibérico”, com o objetivo de “estabelecer um limite no preço do gás utilizado para produzir eletricidade”.
“O alargamento do mecanismo ibérico, entre Portugal e Espanha, contribuiu para baixar os preços”. Contudo, ainda há dificuldades a resolver neste mecanismo, reconheceu.
No primeiro dia de Conselho Europeu, chefes de Estado e de governo da União Europeia tinham concordado em “trabalhar em medidas” para conter os preços da energia, agravados pela guerra da Ucrânia.
A conferência de imprensa no final do Conselho Europeu focou-se, no entanto, noutros tópicos: ajuda à Ucrânia e China. Sobre o financiamento à Ucrânia, Ursula von der Leyen reconheceu que “é muito importante” que o país “tenha um fluxo de rendimento estável”.
De acordo com as autoridades ucranianas, serão necessários 3 a 4 mil milhões de euros por mês para que o país disponha dos recursos suficientes. União Europeia, Estados Unidos e outras instituições deverão colaborar neste esforço. No caso da UE, será dado um contributo de 1,5 mil milhões de euros por mês durante o próximo ano, num total de 18 mil milhões de euros no próximo ano.
Ursula von der Leyen aproveitou ainda a conferência para criticar os ataques russos contra “infraestruturas civis”, prometendo apoio por parte da União Europeia para a mobilização de ajuda humanitária e apoio aos deslocados internos. Temas que serão abordados também no contexto dos trabalhos do G7 na próxima semana, na Alemanha.
Sobre a China, a presidente da Comissão Europeia mostrou preocupação com a aceleração de tensões e as pretensões da China em estabelecer domínio na Ásia e a nível mundial, bem como as “parcerias” entre a Rússia e a China.
“Todos estes desenvolvimentos vão afetar a relação entre a União Europeia e a China”, disse Ursula von der Leyen. Reconheceu também que “o sistema chinês é fundamentalmente diferente do nosso”.
A presidente da Comissão Europeia destaca que a Europa deve estar “muito atenta” a tudo o que se passa. “Aprendemos a lição” com o excesso de dependência em relação à Rússia, vincou a presidente da Comissão Europeia.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel fez um resumo da reunião, recordando que a União Europeia sempre foi “muito firme” na defesa dos princípios da “democracia e a liberdade dos direitos fundamentais” nas relações externas.
“Acreditamos que é importante envolver-nos para conseguir uma maior reciprocidade, um reequilíbrio cada vez maior, nas relações económicas entre a China e União Europeia”, afirmou o presidente do Conselho Europeu. “É importante envolver-nos com a China em matérias globais. Por exemplo, as alterações climáticas ou a saúde”, completou.
“Há uma convicção muito forte, expressa pelo conjunto dos 27 Estados-membros da UE, sobre a importância de desenvolver a autonomia estratégica, esta capacidade de sermos menos dependentes do ponto de vista estratégico e, ao mesmo tempo, reforçar e diversificar as nossas parcerias com o resto do mundo”, disse ainda.
Por esse motivo, Charles Michel reforçou a ideia de que é muito importante “cumprirmos as nossas promessas e pô-las em prática”, para garantir as parcerias e a maior independência da Europa.
Em março, o Conselho Europeu reuniu em Versailles e considerou que havia “três pilares-chave” sobre os quais a UE devia trabalhar para “diversificar a nossa capacidade de influenciar e defender os nossos interesses e promover os nossos valores”: a Energia, a Segurança e Defesa, e Liderança Tecnológica.
“Há uma transformação geopolítica a acontecer e neste momento é importante a União Europeia ter ideias claras, uma preocupação de unidade e uma preocupação de força. É isso que melhor resume os nossos debates sobre as relações com a China”, concluiu.
Quanto ao Irão, Charles Michel recordou os valores que a UE defende, nomeadamente a “proteção das mulheres”. Segundo o presidente do Conselho Europeu, vão ser impostas sanções a quem tentar reprimir os protestos que têm acontecido nas últimas semanas. “Irão: foi enviada uma mensagem muito clara”, sublinhou.
c/RTP
