“Tenho mais dificuldade em programar agora do que há quinze anos”

Há dezoito anos na direção da Casa das Artes, Álvaro Santos fala com a mesma paixão do início sobre um espaço “diversificado, eclético e plural nos projetos e nas abordagens, que desenvolve um trabalho onde todos os artistas cabem”, mas confessa que programar mudou “radicalmente” de há quinze anos a esta parte. 


Em entrevista ao Campus Verbal, na RUM, o diretor artístico assinala que tudo “está muito diferente”, notando que “há uma oferta gigantesca no quadrilátero”, o que “torna o trabalho mais difícil”, em simultâneo com as caraterísticas das novas gerações “que pensam de forma diferente e têm interesses bastante diferentes”, quando na realidade “os projetos artísticos não são assim tão diversificados no território”.


Álvaro Santos nota ainda que os interesses de agora são “mais efémeros e menos conhecedores”. “Quando comprávamos um disco, para além de ele rodar não sei quantas vezes, conhecíamos os temas todos, agora a maior parte das pessoas nem conhece um tema. A componente visual é uma parte muito importante e a relevância e profunidade do trabalho é muito menos importante. Isto é o início de alguma mudança grande, mas não sei se é muito boa para estas áreas artísticas”, afiança.

A preocupação de formação de públicos é constante e é também por isso que a Casa das Artes “trabalha com escolas” com regularidade, um processo intenso e permanente que traz resultados positivos para todos os envolvidos.

Para o programador, a pandemia trouxe “transformações de comportamento” e no pós-pandemia, a primeira abertura resultou numa “invasão aos espaços”,que depois se tornou “mais consistente” ainda que algumas franjas do público manifestem mudanças de comportamento. Diz que é mais difícil entrar numa sala e perceber que há ali um espetador que veio sozinho explorar e sentir o que está no palco, contrariamente ao que acontecia com mais regularidade antes da covid-19.

Álvaro Santos diz também que o preço cobrado à entrada de um espetáculo na Casa das Artes não é alto e que, por isso, esse não será um motivo para o afastamento do público. 

Reconhecendo que a programação em rede é difícil, o programador da Casa das Artes de Famalicão, Álvaro Santos, considera que é tempo de dar escala a diferentes projetos que emergem nas cidades do Quadrilátero Urbano (Famalicão, Guimarães, Barcelos e Braga).

Diálogo entre agentes do Quadrilátero Cultural está mais forte e pode potenciar circulação de eventos marcantes em cada cidade


Na última noite, em entrevista à RUM Álvaro Santos assumiu-se um defensor da potencialização de projetos culturais destas cidades, notando que é preciso “partilhar muito mais daquilo que estes territórios têm e dar maior possibilidade de acesso aos vários públicos”. 

“Na dança, não interessa estarmos todos a fazer a mesma coisa, quando alguns têm um evento de dança mais concentrado. Nós podemos perfeitamente fazê-lo crescer e não precisamos de estar sempre a inventar. Precisamos de conversar”, começa por responder.


Observatório de cinema de Famalicão e festival de dança de Guimarães entre os que podem crescer para o quadrilátero cultural


O Close-up ou o Guidance são eventos que admite que podem ter uma dimensão maior, até “para lá do quadrilátero cultural” já que até ao Alto Minho “não há teatros culturais com dinâmicas permanentes”, uma falha que pode ser corrigida com diálogo e ideias concretas.

Sustentando que as conversações entre programadores dos quatro concelhos já acontecem pontualmente, há um caminho novo por explorar. “Precisamos de pensar o território de forma diferente. No passado tivemos algumas experiências e correu bastante bem, mas agora precisamos de conversar com alguma calma e perceber o que podemos cruzar. É preciso dar maior escala e trazer uma acessibilidade mais simples para os públicos e conseguir concentrar energias, mesmo por causa dos custos dos projetos”, refere também.



Teatro Narciso Ferreira está a colmatar falhas que já se sentiam na Casa das Artes


As residências artísticas são uma constante e Famalicão já contabiliza mais de 100 artistas estrangeiros a residir no concelho, uma particularidade que se sente na cidade e que traz novas dinâmicas, uma outra forma de pensar e de ver a cultura. Com cinco companhias de teatro, uma companhia nacional de dança e circo, o apoio de ajuda à criação foi “fundamental” para chegar a estes números.


O novo espaço cultural, o Teatro Narciso Ferreira, recuperado e reaberto ao público em 2020  é uma aposta ganha e tem permitido “colmatar carências” que já se sentiam como a limitação de espaço para o “forte” tecido artístico instalado neste concelho. É por isso, um espaço “parceiro” e “fundamental para dar condições às entidades artísticas”, acrescenta. 

A localização é também interpretada como uma vantagem uma vez que pode ser aproveitada para acesso a projetos diversificados não só de Famalicão mas também de concelhos vizinhos, nomeadamente Santo Tirso.

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Elsa Moura
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