Novo ciclo do Theatro Circo leva a palco obra musical criada num campo de concentração

Arranca, este sábado, no Theatro Circo, o novo ciclo ‘Contraponto’ dedicado à composição dos séculos XX e XXI. Nesta primeira sessão, sobe ao palco Pluris Ensemble para interpretar a peça ‘Quarteto para o Fim do Tempo’ de Olivier Messiaen.
Em 1940, aquando da rendição de França à Alemanha, o compositor francês foi capturado e enviado para um campo de concentração. É neste contexto que a obra nasce e é apresentada a um público de prisioneiros e militares alemães de todas as hierarquias.
De acordo com Pedro Oliveira, que assume a direção artística do Pluris Ensemble em conjunto com Joaquim Pereira, “Olivier Messiaen afirmou, no final da sua vida, que nunca a sua música foi escutada tão atentamente como naquele dia”. “É uma referência na música do século XX”, vinca.
Pedro Oliveira fala de uma obra “vanguardista” e “impactante”, onde o compositor procura, de duas formas “muito inovadoras”, desconstruir o que entendemos por tempo. “A primeira é diluir a pulsação, ou seja, em alguns andamentos a pulsação é tão lenta que coloca em causa a nossa perceção do tempo. A segunda é a desconstrução de estruturas que eram ditas como normais na música ocidental”, explica.
Trata-se de uma obra de oito andamentos escrita para violino, violoncelo, clarinete e piano, no entanto, os quatro instrumentos só tocam juntos em quatro. “Há muita variedade e diversidade nos instrumentistas que vão tocando e isso cria alguma dinâmica”, afirma, no entanto, acrescenta que é uma obra de “dificílima execução”. A Bíblia, nomeadamente o décimo capítulo do livro do Apocalipse de São João, também serviu de inspiração para a criação da obra musical.
Para Pedro Oliveira, a peça convida o público a “contemplar” e a “refletir”, algo que, no seu entender, “é cada vez mais necessário hoje em dia”.
O espetáculo sobe ao palco pelas 21h30.
