Braga é dos concelhos com mais casos de jovens vítimas de violência doméstica

No primeiro semestre de 2025, a Cáritas de Braga atendeu 52 novos casos de crianças e jovens vítimas de violência doméstica, quase o dobro do número de casos registado no período homólogo de 2024. Desde o início deste projeto, há quatro anos, a Cáritas de Braga acompanhou 110 crianças e jovens, num total de 1.517 atendimentos.
Ouvida pela RUM, Raquel Gomes, coordenadora das respostas de apoio à vítima, avisa que este fenómeno tende a crescer. “Os números continuam a crescer e vão continuar”, também porque a atenção dirigida para estas situações é maior.
A par da atenção redobrada, a inclusão destas faixas etárias no estatuto de vítima, em 2021, e o impulso da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima fizeram com que o serviço que, até “há poucos anos”, se focava exclusivamente na vítima adulta, agora também atenda crianças e jovens vítimas de violência doméstica.
Braga é provavelmente o terceiro território com maior registo de alertas, número que não inclui as «cifras negras», ou seja, os casos que não são formalizados e a que nós não temos acesso”.
“Neste momento, toda a rede nacional de apoio à vítima presta uma atenção redobrada às crianças e jovens, daí estarmos a receber mais crianças e jovens neste contexto”, esclarece a coordenadora.
Para Raquel Gomes, esta preocupação renovada “é de extrema importância” porque a intervenção precoce limita “o impacto da violência doméstica no seu desenvolvimento” e quebra um possível “ciclo geracional de violência”.
À Cáritas, a referenciação destes jovens pode ser feita pela própria rede ou por redes externas como a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e as Equipas Multidisciplinares de Apoio aos Tribunais.
Há situações em que é o próprio jovem quem pede ajuda, mas a maior parte dos casos é “a própria mãe ou pai que recorre ao serviço enquanto vítima de violência doméstica” e pede ajuda para o filho.
De acordo com Raquel Gomes, Braga é “provavelmente o terceiro território com maior registo de alertas, número que não inclui as «cifras negras», ou seja, os casos que não são formalizados e a que nós não temos acesso”.
A operacionalização deste serviço, há quatro anos, teve origem num projeto-piloto desenvolvido em parceria com a Escola de Psicologia da Universidade do Minho, que para além da promoção, já trabalhava na intervenção psicológica destas crianças e jovens.
Alguns dos casos são acompanhados há vários anos, o que, nas palavras de Raquel Gomes, reflete “não só a gravidade dos impactos da violência, mas também a ausência de respostas estruturadas e contínuas que apoiem verdadeiramente estas famílias”.
