Rui Vieira de Castro. “A UMinho é hoje uma instituição central no sistema de ensino superior”

Rui Vieira de Castro afirma que deixa a reitoria da Universidade do Minho (UMinho) sem lamentar o que quer que seja e, portanto, “sem nostalgias”, na convicção de que deu o melhor de si para que a instituição fosse reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu papel na formação de pessoas, pelo seu impacto na área da investigação e na sua missão junto da comunidade. Gratidão, foi uma das palavras que fez questão de repetir para se dirigir à comunidade académica.
A dias de deixar o cargo de reitor da UMinho após oito anos divididos por dois mandatos, Rui Vieira de Castro concedeu à RUM uma grande entrevista de balanço, agradecendo à comunidade o voto de confiança e a colaboração. Afirma que existe hoje um “elevado reconhecimento da qualidade da instituição” que não pode ser distanciado de “todos os movimentos de transformação que foram sendo desenvolvidos dentro da Universidade”.
“Saio com esta convicção de que tomei uma opção, concretizei o meu papel olhando para as circunstâncias que eram as minhas, para os recursos que tinha disponíveis, acho que fizemos um bom trabalho, e quando digo que fizemos, é que fizemos todos um bom trabalho na transformação da Universidade do Minho, que é, hoje por hoje, uma instituição central no Sistema de Ensino Superior em Portugal, que tem uma atividade de enormíssima relevância na área da produção de conhecimento científico, e que é exemplar na forma como nos articulamos com o nosso contexto”, declarou esta terça-feira aos microfones da RUM.
No plano da Educação, Rui Vieira de Castro refere o alargamento da capacidade de captação de novos estudantes e de estudantes de qualidade como um dos marcos que fica. Algo possível através da disponibilização de vários cursos não conferente de grau, “uma aposta ganha”, com 1300 estudantes que a cada ano frequentam a UMinho nesse contexto.
Aposta em cursos não conferentes de grau, integração em redes internacionais e profissionalização de investigadores entre as marcas que ficam dos dois mandatos enquanto reitor
Rui Vieira de Castro destaca também a profissionalização dos investigadores, recordando que em 2017 a instituição contava apenas com um investigador de carreira e hoje ultrapassa os 100.
Em matéria de infraestruturas evidencia o Hub de Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa (TERM Res-Hub), no Ave Park, a instalação do Deucalion [em parceria com a FCT] no campus de Azurém ou o arranque da construção do edifício que vai alojar o Centro de Dados da FCT, também no campus de Azurém, em Guimarães. Na ótica do reitor são “marcas que vêm alterar de uma forma que será permanente, aquilo que é a atividade científica”. Um trabalho, realça, realizado também “num quadro de incremento da quantidade, da qualidade da produção científica, também num quadro de melhoria da classificação das unidades de investigação [da UMinho]”.
Realça a interação com o tecido económico, com o setor social e cultural, nomeadamente as 18 agendas mobilizadoras em que a instituição está envolvida, contando com consórcios “com um vasto número de entidades empresariais, muitas delas líderes nos seus setores”. Aqui, confidencia, está aberto o caminho para “o aprofundamento desta vertente de trabalho da Universidade como condição para responder aos desafios colocados no desenvolvimento da economia”. Por isso, nos próximos tempos, a expetativa é que surjam novas infraestruturas que resultam do trabalho e aposta da instituição nestes domínios.
“Nós fizemos um conjunto de candidaturas a um programa da CCDR-Norte, um programa que foi e vai ser essencial para a construção de um sistema de inovação regional. Avançámos com candidaturas na área da construção sustentável, um edifício que será localizado aqui no campus de Gualtar. Mas também uma infraestrutura ligada à transformação digital das empresas, a Fábrica do Futuro, que vai ser localizada em Guimarães”, exemplifica.
O fortalecimento das relação entre a UMinho e os municípios de Braga e Guimarães não pode ser desvalorizado, alertou também o reitor da academia minhota que acredita que os novos protagonistas vão seguir o legado deixado. Entre os exemplos recentes de cooperação, o responsável nomeou também a Residência Universitária na Fábrica Confiança, em Braga e a Residência Universitária de Santa Luzia, em Guimarães, equipamentos disponibilizados pelas respetivas autarquias para responder à falta de alojamento estudantil para os alunos da instituição. Para as próximas semanas está prevista uma homenagem aos autarcas de saída a quem pretende atribuir a Medalha de Honra da Universidade do Minho.
Renovação do corpo docente está em curso e há capacidade para prosseguir
Em 2017, na construção do plano de ação tendo em vista a candidatura ao cargo de reitor, Rui Vieira de Castro já identificava a necessidade de renovação do corpo docente da instituição. Admite que também aqui, as fragilidades financeiras impediram uma ação mais imediata. Agora diz que esse processo está em marcha e não será uma dor de cabeça para o seu sucessor. Em causa estava, para lá do corpo docente, o envelhecimento dos trabalhadores técnicos, administrativos e de gestão. “O diagnóstico estava feito, a questão é como é que se lida com esta circunstância quando nós temos recursos financeiros que são limitados”, lembrou.
Nesta matéria, confessa também que é uma das lições que ficam deste exercício enquanto reitor da Universidade do Minho: “Uma das coisas que eu aprendi em todo este exercício é que é necessário temperar as nossas aspirações, as nossas ambições, com os recursos que nós temos disponíveis. É sempre bom termos ambição, mas é bom também que saibamos exatamente quais são os recursos com que contamos. E eu próprio experienciei isso, quando verifico que de facto não tínhamos condições para fazer aquilo que eu entendia e a minha equipa entendia como sendo absolutamente desejável”, desabafa.
Com a melhoria da situação financeira, a instituição “injetou de forma significativa sangue novo”, explica, referindo-se ao lançamento de “dezenas de concursos”, sobretudo nos últimos dois anos, e que também por isso hoje em dia a UMinho já não se depara com problemas nesta matéria.
Máquina administrativa da UMinho não estava preparada para estratégia de crescimento que esta reitoria não deixou de seguir
Infraestrutura interna alvo de investimento de milhões
Um dos anseios da comunidade académica é a desburocratização de processos internos, uma matéria “muito sensível”, assume, mas que justifica também pela opção que tomou de não travar o crescimento da instituição, antes pelo contrário.
“A Universidade tornou-se, nos últimos dez anos, uma outra instituição, com muito mais gente no seu interior, com uma muito maior diversidade de projetos no seu interior, de ensino, de investigação, com muito maior exigência externa relativamente ao tipo de requisitos que são colocados à Universidade no seu funcionamento administrativo, legal, financeiro, tecnológico, e isto trouxe-nos um problema relacionado com a necessidade de adequar aquilo que são os nossos sistemas e o seu funcionamento a esta mudança. Eu acho que a Universidade do Minho, determinadamente, se deparou com um dilema: continuar o seu crescimento, sabendo que esse crescimento traria consigo novos desafios, – alguns deles difíceis de responder -, ou pura e simplesmente abandonar e dizer é por aqui que queremos ficar. Claramente a minha opção foi a primeira”, anota.
Admitindo que a máquina administrativa da instituição “não estava preparada para uma resposta à altura”, a opção foi a de “não poder frustrar aquilo que são as expectativas que sobre a UMinho se colocavam. Também aqui realça que a partir do momento em que os recursos financeiros surgiram, a instituição começou a investir, nomeadamente na melhoria dos processos de tramitação interna e na qualificação de toda a infraestrutura tecnológica. “Há um investimento de milhões de euros que a Universidade tem vindo a fazer nestes últimos tempos”, aponta.
Entrada na Arqus ajudou a transformar a Universidade do Minho
Inserida num contexto internacional e parte ativa de várias redes que envolvem um vasto leque de universidades públicas, Rui Vieira de Castro explica que a internacionalização da UMinho apresenta-se hoje num
contexto diferente, possibilitando dinâmicas novas, nomeadamente através da deslocação de estudantes, investigadores, professores, trabalhadores para outras universidades parceiras, “para com elas aprenderem e para levarmos também a própria experiência. Costumo dizer isto, a universidade é, por definição, uma instituição internacional”.
Chamando para si e para a sua equipa a decisão de integrar a rede Arqus, uma aliança europeia de universidades, afirma que se tratou de uma decisão que transformou a UMinho. “A realidade nova que surge no contexto europeu é das universidades europeias. E é uma realidade nova que é assumida pela comissão como fator de transformação de todo o sistema de ensino superior na Europa. E, portanto, a Universidade não podia estar fora deste movimento.Nós estamos hoje numa Aliança Europeia de Universidades que é muito reconhecida, que tem sido liderante em vários projetos e que está a ter efeitos transformadores”, especifica ainda.
No contexto de afirmação internacional, assinala que se exige “um trabalho persistente junto da comunidade”.
“O grande desafio que se coloca é uma espécie de internalização desta ideia de que agora nós somos uma outra coisa e temos benefícios da pertença a esse outro lugar”, conclui.
A entrevista completa pode ser escutada em podcast no espaço Campus Verbal.
