MIT Portugal quer ser o “catalisador” para colocar a ciência nacional na rota dos chips, dos satélites e da IA

O programa MIT Portugal está a celebrar 20 anos de existência e entra agora numa nova e ambiciosa fase, desenhada para responder aos desafios tecnológicos de 2025. Em entrevista à RUM, Alexandre Ferreira da Silva, que assume agora a codireção da parceria sediada no campus de Azurém, na Universidade do Minho, detalhou como o programa pretende reforçar a capacidade do país em áreas críticas como os chips e nanotecnologia, o espaço, a inteligência artificial e a energia.
“20 anos significam que foi uma aposta correta”, começou por referir o investigador do Centro de Microssistemas Eletromecânicos (CMEMS). A longevidade da colaboração com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) explica-se pela sua capacidade de adaptação: se há duas décadas as prioridades eram outras, hoje o foco alinha-se com as agendas europeias para garantir que Portugal não perde a “corrida” da inovação tecnológica.
Um “catalisador” para acelerar a ciência
Para Alexandre Ferreira da Silva, a grande mais-valia desta “ponte” com os Estados Unidos é o efeito acelerador. O docente descreve a parceria como um “catalisador” que permite a Portugal ganhar tempo face a mercados mais maduros. “Em realidades como a americana, muitas destas áreas já estão consolidadas. O programa permite-nos, num curto espaço de tempo, avançar aquilo que, de forma isolada, nos demoraria muito mais tempo a alcançar”, explicou. Este acesso a redes e know-how permite a Portugal queimar etapas em setores onde ainda está a construir a sua pegada industrial.
O exemplo do MH1: Como se colocou Portugal de volta ao espaço
Como prova prática do impacto desta colaboração, o investigador destacou o lançamento do satélite MH1, o primeiro a regressar ao espaço com bandeira portuguesa em 2024. O feito resultou do projeto AEROS, financiado e potenciado pelo ecossistema do MIT Portugal. O co-diretor sublinhou que o principal obstáculo nacional não era técnico, mas sim estrutural. “Não era uma questão de falta de competências técnicas, essas já tínhamos. Faltavam-nos os enquadramentos, a legislação, a burocracia, os seguros e os serviços de lançamento”, detalhou. O programa ajudou a reunir estas peças, permitindo que a engenharia nacional chegasse efetivamente à órbita.
Nesta quarta fase, há um esforço renovado para que a investigação não se esgote na publicação científica. O objetivo é fortalecer a ligação entre a Academia e a Indústria, transformando o conhecimento em produtos. “Queremos estimular o sentido de oportunidade e de missão de capitalizar sobre a investigação. Quem sabe criar as próprias startups ou explorar o valor acrescentado dos trabalhos”, afirmou, apontando para a cultura de empreendedorismo que o programa incute nos participantes.
O impacto nos estudantes continua a ser o pilar central. Através de bolsas de doutoramento, escolas de verão, como a de robótica marinha nos Açores, e semanas de inovação, o programa cria “pontes transatlânticas” que perduram nas carreiras dos alunos. O próprio percurso de Alexandre Ferreira da Silva serviu de exemplo na conversa. Com formação-base em Engenharia Biomédica, o docente fez o seu doutoramento no âmbito do MIT Portugal na área de liderança tecnológica, o que lhe permitiu transitar para o setor aeroespacial. “Os caminhos que tomamos não nos bloqueiam. Hoje em dia, as fronteiras são difusas”, garantiu, deixando uma mensagem de incentivo aos estudantes da UMinho para que não tenham receio de diversificar a sua formação.
Embora a coordenação do MIT Portugal esteja sediada no campus de Azurém, em Guimarães, a sua missão é servir todo o território nacional. Alexandre Ferreira da Silva reforça que o gabinete trabalha para todas as instituições de ensino superior e centros de investigação do país. Aos alunos da UMinho que tenham dúvidas sobre se o programa se adequa aos seus objetivos, o convite fica feito: “Estamos de porta aberta para esclarecer e, se não formos nós a resposta, encaminharemos para outras parcerias, porque o sentido de missão é a formação dos jovens”.
