“A arte tem de obrigar à reflexão e o melhor para isso é a fotografia”

“A arte tem de obrigar à reflexão e o melhor para isso é a fotografia”. A frase é de Carlos Fontes, Diretor dos Encontros da Imagem, que faleceu esta sexta-feira, aos 66 anos, vítima de doença oncológica.
Há mais de trinta anos, Carlos Fontes foi um dos fundadores do Festival Internacional de Fotografia, juntamente com Rui Prata e Manuel Santos. Em 2017 e depois de vários anos afastado da direção, regressou para assumir as rédeas do festival internacional ao qual se dedicou com paixão, travando vários desafios para reunir os apoios necessários à sua continuidade.
Na última entrevista ao Campus Verbal, há menos de um ano, o também professor de História, sublinhou a importância da arte como meio de reflexão. “É meu entendimento que a arte não deverá ser só vista pelo seu lado estético. Tem de ter uma capacidade de intervir e de obrigar à reflexão e, melhor do que tudo para esse trabalho é a fotografia, porque parte sempre de um real, mesmo que esse real possa ser imaginado, mas ele existe para ser capturado pela máquina fotográfica. E, depois, é trabalhado em função dos objetivos e das preferências de cada um dos artistas”, reiterou.
“É um projeto que me apaixona ainda, que me apaixonou ao longo de todo este percurso”
A preparação de um evento como os Encontros da Imagem é exigente e esse foi um dos temas abordados na última grande entrevista à RUM, no ano passado. “Já dei muito a este projeto. É um projeto que me apaixona ainda, que me apaixonou ao longo de todo este percurso, mas isto também vai desgastando. A idade também não perdoa e isto deixa marcas. Acho que é chegada a altura de dar a oportunidade também a esta equipa jovem, que possa pegar no projeto e ter uma outra visão, assumirem pelo menos a responsabilidade artística da produção do festival. Acho que é bom, que é importante, cria expetativas, cria mais vontades, cria sinergias, e penso que a autarquia, no futuro, olhará para isso como a necessidade de quase termos aqui uma empresa cultural, acho que era importante”, disse em jeito de desafio.
Com um orçamento de 250 mil euros anuais para o festival que acontece entre setembro e outubro, Carlos Fontes foi sempre defendendo mais apoios do município, do Estado, mas também de mecenas.
Conhecedor profundo de cada passo na montagem de um evento desta envergadura, deixou várias vezes um apelo aos mais jovens para que se associassem à preparação dos Encontros da Imagem que, em 2022, resultaram do trabalho de quatro pessoas.
Nesta mesma entrevista nos estúdios da RUM, Carlos Fontes lembrava que os Encontros da Imagem nasceram “da calorice de um grupo de amigos na década de 80, com meia dúzia de exposições”, crescendo com o tempo em dimensão e qualidade.
Carlos Fontes desaparece aos 66 anos depois de uma vida dedicada ao ensino e à cultura na cidade de Braga.
As cerimónias fúnebres estão agendadas para este sábado, às 11h00, na Igreja de São João do Souto.
