A comunicação da covid-19 em Portugal. Da adesão à mensagem à missão de questionar

“Um ano que desafiou todo o setor da área da comunicação”. É assim que Luís Santos, investigador e docente da UMinho no Instituto de Ciências Sociais (ICS) analisa a comunicação das autoridades e da própria comunicação social no país desde o primeiro caso de covid-19. Luís Santos começa por afirmar que “depois de anos de alguma fragilidade, percebeu-se que as pessoas retomaram o interesse pela informação relevante e pela informação de qualidade”.
Dividindo a análise em duas fases, realça o primeiro momento com “uma adesão quase generalizada à mensagem das autoridades públicas”. De março até ao verão de 2020, a cobertura jornalística foi “muito próxima da mensagem que o governo queria passar que resultou num controle da situação”, analisa.
Na opinião de Luís Santos, depois do verão surgiram as dificuldades da comunicação pública e do jornalismo que nessa fase “retomou a sua missão principal de questionar os poderes”. Aí, a comunicação pública demonstrou “as suas fragilidades”, percebendo-se que “navegava muito ao sabor daquilo que sentia na opinião pública”, o que diz ter sido “um mau sinal”.
Aqui, o investigador lembra outros países que conduziram de maneira diferente a comunicação de crise e que, por essa razão, “tiveram resultados bem diferentes dos de Portugal”.
Sobre a intensificação de fakenews e de grupos identificados que descredibilizam a pandemia e a situação que o país viveu e vive, Luís Santos considera que o que mudou foi a perceção da própria sociedade sobre estes fenómenos. “Estamos todos mais conscientes de que existem estas atividades e de que elas interferem com a nossa vida. Portanto, temos que estar atentos, ter precauções relativamente à informação a que acedemos e, sobretudo, precauções relativamente à informação que espalhamos para as nossas redes pessoais de amigos e de familiares”, conclui.
