A “urgência” do regresso ao local de trabalho e a “falsa questão” de um apoio financeiro ao teletrabalho

Entre as mensagens fortes deixadas na conversa aberta sobre o Futuro do Trabalho salta à vista que o modelo de teletrabalho ainda não convence as empresas. O debate foi promovida pela RUM, em parceria com a ACB.
Depois de um ano em que não existiu alternativa, os empresários querem os colaboradores de volta às empresas e discordam da ideia de um pagamento suplementar para o trabalho a partir de casa, considerando que o colaborador tem mais benefícios do que prejuízo.
Fernando Alexandre, presidente do Conselho Económico e Social, economista e docente da UMinho
considera “urgente o regresso ao local de trabalho”, e admite estar preocupado com dezenas de milhares de jovens que entraram no mercado, mas à distância, no último ano. Defende uma atenção redobrada para este tema durante a retoma presencial das organizações.
O docente avisa que o afastamento das pessoas no último “vai exigir uma grande capacidade de gestão de recursos humanos” e antevê “situações complicadas”. As competências de quem está a entrar no mercado de trabalho preocupam o economista já que muitos, “apenas contactaram com superiores hierárquicos online”.
“É o dano mais grave e é aquilo que para mim torna absolutamente urgente o regresso ao local de trabalho. Pode ser num equilíbrio diferente, menos rígido, mais flexível, mas é fundamental que as pessoas percebam que pertencem a uma comunidade, que se mobilizam por projetos, por objetivos e isso a pandemia claramente destrói”, argumenta.
“Nenhum setor pode continuar muito mais tempo assim” – Pedro Fraga, F3M
A opinião é partilhada por Pedro Fraga, CEO da tecnológica bracarense F3M, que apesar de tudo teve em 2021 “os melhores quatro meses de sempre”. Assume que, apesar dos números, não pode estar satisfeito e que “é preciso caminhar para por um fim nisto” porque nenhum setor “pode continuar muito mais tempo assim”.
Além disso, o empresário não esconde a preocupação com o agravamento dos desequilíbrios na área tecnológica com a massificação do teletrabalho. “Se continuarmos na área tecnológica com todas as pessoas em casa, perdendo-se o espírito de corpo que é o que nos diferencia, qual é a diferença para um elemento de uma empresa de Braga, Porto ou Lisboa, trabalhar nessa empresa cá ou trabalhar para qualquer empresa em centros tecnológicos como Dublin, Amesterdão? Não há diferença”, observa. Pedro Fraga acrescenta as empresas portuguesas vão perder mão de obra qualificada no país e serão obrigadas a “trabalhar melhor, vender melhor e sacrificar margem”.
Apesar da pressão que já começava a existir, refere que “centenas de jovens licenciados hesitavam antes de dar o salto para o estrangeiro e preferiam ficar”. Mas, a situação atual, agravada pela pandemia, torna mais difícil a competitividade das empresas portuguesas.
“Nós, empresas locais e regionais éramos empresas claramente atrativas. Neste momento, trabalhar em casa por trabalhar em casa, se me pagam 1500 (euros) aqui e me pagam 3500 numa empresa da Alemanha e até fico cá, eu não hesito”, exemplifica.
Reiterando a ideia de que é “completamente contra” a possibilidade de um pagamento mensal por parte das empresas aos trabalhadores com o teletrabalho, Pedro Fraga afirma que “o nível de poupança para quem está em teletrabalho é incomparavelmente maior que o nível de custos novos”. Apesar de reconhecer custos acrescidos com a eletricidade, assinala as poupanças efetivas em deslocações, parques de estacionamento, alimentação, e despesas com roupa e calçado.
Entre as propostas diversificadas dos partidos, há uma que salta à vista: o PCP sugere um valor diário para teletrabalho de aproximadamente 11 euros, pago pelas empresas. A ideia é objetivamente rejeitada por Pedro Fraga que admite não conhecer nenhum empresário com trezentos ou quatrocentos trabalhadores que pretenda manter o teletrabalho. “Não é um peditório para que eu vá dar”, remata.
Já o presidente da UGT Braga, César Campos, sustenta a ideia de que o teletrabalho veio para ficar, com vantagens e desvantagens para todas as partes, e admite estar preocupado com as consequências psicológicas já visíveis que “exigem um debate sério sobre o modelo de trabalho”.
César Campos alerta para a dificuldade de muitos trabalhadores em desligar do trabalho em casa e sugere “uma preparação tendo em vista uma implementação adequada para as empresas e para os trabalhadores”.
