Abusos sexuais na Igreja: as conclusões da comissão independente 

[Em atualização]


A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica divulga esta manhã as conclusões do trabalho realizado ao longo de 2022 e que resultou na recolha de centenas de testemunhos de vítimas. O documento foi entregue este domingo à Conferência Episcopal Portuguesa.

No primeiro relatório do género divulgado em Portugal, admite-se que terá havido “no mínimo” 4.415 vítimas de abusos sexuais na Igreja.

No total, foram recebidas mais de 600 denúncias. Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria foram os distritos onde foram reportados mais casos.

A apresentação do documento teve início com Pedro Strecht, que preside à comissão. O pedopsiquiatra começou por prestar um tributo e homenagem sincera pelas vítimas dos abusos” que “são muito mais do que números ou estatísticas” e avançou que foram recebidos 512 testemunhos validados.

Há casos em todos os distritos (sobretudo Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria), a maioria das vítimas são homens (52%) e professava a religião católica.

A idade média das vítimas é atualmente de 52 anos, mais baixa do nos outros países onde decorrem investigações aos abusos sexuais na Igreja. Seriam alunos do primeiro ou segundo ciclos quando foram alvo de abusos sexuais.

20,2% das pessoas que denunciaram abusos têm menos de 40 anos de idade.

Há um pico de abusos nos anos 60 e também nos anos 90.

Os locais onde decorriam estes abusos eram, por ordem de prevalência: seminários colégios internos geridos pela Igreja, confessionários, sacristias, casas do pároco. Nos anos 90 há relatos também de agressões sexuais em agrupamento de escuteiuros.

Os agressores na grande maioria (96%) do sexo masculino e 77% padres.


Para estes abusadores “não basta um acompanhamento espiritual”


Daniel Sampaio, psiquiatra e membro da comissão independente, revelou depois que os resultados do estudo mostram que há uma prevalência de casos de abusos sexuais contra crianças, e que esse flagelo não se limita ao seio da Igreja Católica.

Os “números são muito impressionantes”, disse Daniel Sampaio, acrescentando que no caso da Igreja, a prevalência é maior contra raparigas.

“O tratamento mais importante dos abusadores é uma justiça célere e eficaz (…) Precisamos de fazer uma denúncia destas situações para que a justiça possa atuar”, afirmou o psiquiatra.

“O tratamento pode ser através de psicofármacos, mas é preciso uma psicoterapia intensiva”, explicou Daniel Sampaio.

“Para estas pessoas abusadoras não basta um acompanhamento espiritual. É fundamental no seio da Igreja, mas estas pessoas têm de ser tratadas do ponto de vista psicológico”, referiu.

Abuso sexual sobre crianças tem “um efeito absolutamente nefasto”


O juiz-conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, também membro da comissão independente, considerou que o abuso sexual sobre crianças tem “um efeito absolutamente nefasto” no seu desenvolvimento.

Existe “um dever” moral do clero de denúncia em relação a este tipo de crimes, apelou Álvaro Laborinho Lúcio que sublinhou ainda a alteração à lei da prescrição dos crimes de abuso sexual, considerando que só devem prescrever depois de vítimas fazerem 30 anos.

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Redação
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