Foi eficaz a resposta da UE à crise no sector agrícola? Qual o futuro?

A eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais descreveu a resposta da União Europeia (EU) à crise do sector agrícola como “mitigada e reveladora de alguma fragmentação”. No âmbito da rubrica “9 debates, 9 deputados”, a antiga professora na Universidade do Minho considerou, no entanto, que a crise provocada pela pandemia de Covid-19 pode ser uma janela de oportunidades, nomeadamente no que toca a agilizar processos e facilitar a comunicação entre a UE e os seus cidadãos.
Recorde-se que uma das respostas da Comissão Europeia para fazer face aos problemas no sector agrícola passou por determinar, aos países membros, a utilização dos seus envelopes financeiros, utilizando o que restava do quadro comunitário 2014-2020. Uma “não solução”, por exemplo para países como Portugal que recebeu um total de 9 mil milhões de euros e que conta com uma taxa de execução perto dos 94%.
“Não é solução. Isso significa que países como Portugal, que foram bons executores dos seus programas, não têm grande dinheiro para poderem fazer esse género de respostas à crise. Nós, no parlamento europeu, percebemos o desagrado dos agricultores”, afirma.
Isabel Estrada Carvalhais defende que o caminho deve ser pautado pela “concretização da solidariedade” através de um “projecto europeu melhorado”. Numa análise critica, a eurodeputada do distrito de Braga frisou que, no seu entender, a Europa deve reflectir sobre as suas dependências. “A pandemia tornou evidente que temos dependências não só no sector da agricultura como na área da energia e indústria. Para uma entidade que se pretende apresentar como uma potência geopolítica a nível mundial estas dependências dão que pensar”, declara. Isabel Estrada Carvalhais acrescenta que se os 27 não reflectirem sobre estas problemáticas, as mesmas podem repetir-se.
União Europeia quer apostar na agricultura sustentável de curta escala.
A eurodeputada minhota frisa que esta não é, claramente, a resposta que irá alimentar os aproximadamente 500 milhões de pessoas que habitam nos 27 estados membros da UE. Contudo, este investimento na estratégia “Farm to Fork”, que será apresentada a 20 de Maio, irá permitir a diminuição, por exemplo, da produção de CO2.
Também para Portugal esta é uma oportunidade. “Não podemos esquecer que a pequena agricultura, maioria dela familiar, tem grande expressão no nosso país. É geradora de riqueza e é fundamental para a manutenção do mundo rural. Através desta actividade vamos combatendo a desertificação e o despovoamento do interior”, realça.
A Política Agrícola Comum tem um peso considerável no orçamento comunitário da UE. No quadro comunitário de 2014-2020 correspondeu a 38% desse orçamento.
Sector da agricultura é maioritariamente envelhecido dentro da UE.
A discussão e reformulação da Política Agrícola Comum pode abrir caminho para que os mais jovens optem por esta área no futuro. A eurodeputada garante que a falta de agricultores jovens não é uma tendência exclusiva do nosso país, e que estratégias como o Farm to Fork” podem significar mais apoios financeiros para os projectos dos jovens agricultores.
Para isso, Isabel Estrada Carvalhais aconselha os jovens agricultores portugueses a apostarem na sua formação. Esta pode ser ao nível da gestão, ciências agrárias, entre outras. Outro aspecto fundamental passa pelo aconselhamento técnico, sugere.
Inovação é outra das palavras de ordem. “Apostem na inovação tecnológica, em práticas de melhoria agrícolas, práticas bio e também na agricultura de precisão”, recomenda a eurodeputada.
Isabel Estrada Carvalhais deixou ainda uma mensagem de reconhecimento pelo trabalho, dedicação e capacidade de adaptação à nova realidade devido à situação pandémica do país. “Os nossos agricultores são verdadeiros heróis e estão de parabéns”, declarou.
