ANICT acusa a FCT de manipular taxas de sucesso

A Associação Nacional de Investigadores em Ciência e Tecnologia (ANICT) acusa a FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia – de manipular as taxas de sucesso do Concurso de Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico. Os resultados foram publicados na passada quinta-feira, 29 de julho, apenas quatro meses depois do fecho das candidaturas. Algo praticamente inédito.
No total foram admitidas para avaliação 4.870 candidaturas, 3.371 tiveram a classificação mínima para ser elegíveis a financiamento, sendo que apenas 551 projetos serão financiados, o que resulta, segundo a FCT, numa taxa de sucesso de 8,7% para projetos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico e de 56,7% para os projetos exploratórios.
“O que a FCT faz é, na minha opinião, desonesto”, começa por referir aos microfones da RUM o secretário da ANICT, Nuno Cerca, numa reação às taxas de sucesso divulgadas pela entidade que avalia e financia atividades de investigação científica no país. O membro fundador da ANICT revela que na verdade a taxa de sucesso deste concurso é de 6,2% e não de 8,7%, visto que a FCT excluiu da sua estatística projetos com classificação inferior a “Muito Bom”.
“A FCT ignora completamente todos os outros projetos que foram submetidos, avaliados e tiveram o envolvimento de muitas equipas de investigadores portugueses”, declara.
No total, a FCT irá investir 74,9 milhões de euros nos 551 projetos aprovados, dos quais 60 milhões são direcionados para projetos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico, com duração de 36 meses, e 15 milhões são dotados para projetos de investigação de caráter exploratório com duração de 18 meses.
Para Nuno Cerca o país tem, ao longo da última década, aumentado de forma “muito significativa” o investimento em ciência. Contudo, alerta para o facto do discurso político de ter a ambição de alcançar a meta de 1,2 do PIB já ter, na verdade, uma década, sendo que continua nos 0,7% do PIB, muito a baixo da média da União Europeia. Para o responsável é premente que a sociedade decida se quer que Portugal seja ou não um país que investe em ciência.
Porém, nem tudo é negativo. O investigador principal do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, felicita a FCT pela celeridade do processo, visto que o país não pode continuar a contar com tempos de decisão de 7 a 9 meses, quando os concursos internacionais ocorrem num período de 3 meses. “Era ótimo que passasse a ser regra”, defende.
Nuno Cerca alerta também para o facto de muitas das bolsas de 2017, ano recorde em termos de projetos aprovados, cerca de 1.620, terem sido prorrogados devido à pandemia e, por isso, ainda não terminaram, o que pode colocar em risco os projetos submetidos no atual concurso de 2021.
Segundo as regras da FCT, a equipa de investigadores não pode ter um tempo de dedicação superior ao máximo permitido por lei, as 35h ou 40 horas semanais. Ora, basta um membro da equipa ter uma taxa de dedicação superior a 100% para o projeto estar em risco.
