Arcebispo de Braga encontrou-se com vítimas de abuso sexual e reconhece “omissões e negligência”

O Arcebispo de Braga encontrou-se pessoalmente com algumas das vítimas de abuso sexual por membros da igreja, para ouvir os seus testemunhos, e reconhece que estes casos “não foram tratados como prioridade, arrastando consigo erros, omissões e negligência”. Numa carta aberta, D. José Cordeiro assume que “na Igreja e suas instituições, não podemos tolerar uma espécie de conspiração silenciosa, pois o silêncio, nestes casos, mata emocionalmente, tanto como os crimes dos próprios culpados”.
O Arcebispo revela ainda que, na Arquidiocese de Braga, “será disponibilizado um serviço de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, bem como de acompanhamento espiritual e de reconciliação para as pessoas vítimas que o desejarem, através da criação de uma ‘bolsa de técnicos’ e de acompanhantes espirituais”.
Além disso, será também elaborado “Diretório para um Ambiente Seguro” com as boas práticas éticas e profissionais dirigidas a todos os que trabalham nas instituições centrais da Arquidiocese, bem como paróquias, centros sociais e IPSS, movimentos, instituições, funcionários ou voluntários.
Na carta a que a RUM teve acesso, D. José Cordeiro explica que “serão implementados programas de formação permanente, que inculquem formas respeitosas de relacionamento com os outros, capacitem para a identificação precoce de possíveis casos de abuso e para a elaboração de mapas de risco, definindo também procedimentos claros de resposta a eventuais denúncias de quaisquer tipos de abuso no seio das comunidades e instituições da Arquidiocese”.
Além das omissões, o Arcebispo reconhece que, “nos últimos dias, houve mensagens confusas e contraditórias e equívocos de comunicação sobre o modo de agir da Igreja perante este flagelo hediondo”. “Por tudo isso, pedimos perdão”, acrescenta.
Os abusadores não são esquecidos e D. José diz ser “importante abrir caminhos de reconciliação e de acompanhamento terapêutico”. “A Igreja, ao afastar preventivamente da atividade pastoral um clérigo acusado ou condenado por abusos sexuais de menores, não o pode abandonar, porque a ‘redenção é sempre possível’. O princípio jurídico da presunção de inocência até prova contrária é irrenunciável”, acrescenta.
A carta, assinada também pelos dois bispos auxiliares, D. Nuno Almeida e D. Delfim Gomes, relembra que será celebrada “uma jornada nacional de oração por todas as pessoas vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais, no próximo dia 20 de abril”. Além disso, revelam que, desde outubro de 2019, data em que foi criada a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAVAB) foram ouvidas 28 pessoas. A arquidiocese apela a que todos os que tenham conhecimento de situações de abuso que façam chegar o seu testemunho a esta Comissão.
