Bracarenses garantem que São João será em casa

Pela primeira vez, a festa de São João mais antiga de Portugal (1150) não vai sair à rua. Recorde-se que o programa das festividades arrancou no dia 15 de Junho, sendo que a maioria das iniciativas teve lugar em formato digital devido à pandemia de Covid-19. Esta manhã, a Universitária esteve no centro histórico da cidade dos arcebispos para perceber como vai ser a noite mais longa do ano, apesar das restrições.
Parece ser unânime, os bracarenses vão cumprir e o São João será vivido dentro de portas com a esperança que, em 2021, tudo volte à normalidade.
Presidente da Câmara Municipal de Braga apela a bracarenses para viverem uma “noite normal”.
Ricardo Rio pede à população que respeite as normas em vigor e celebrem o São João de Braga em casa. O edil não se ilude e diz que, uma vez que o tempo está convidativo, algumas pessoas vão optar por sair à rua, contudo esta deve ser uma “noite normal”.
O edil anuncia que a autarquia não autorizou “nenhum licenciamento excepcional ligado à noite de São João”. Desta forma, será proibida a instalação de grelhadores no exterior dos restaurantes. Para controlar a afluência de pessoas, as ruas vão contar com uma maior presença das forças de segurança, nomeadamente, nas zonas que podem potenciar uma maior concentração de pessoas como é o caso do Campo das Hortas, Campo das Carvalheiras e do Parque da Ponte.
“As forças de segurança vão estar presentes sempre com uma postura no sentido de sensibilizar as pessoas de forma pedagógica para que respeitem as regras”, declara.
São João não vai reunir toda a família à mesa.
Apesar desta ser uma noite de festa, no seio de algumas famílias é certo que alguns lugares à mesa ficarão por ocupar. Uma informação confessada aos microfones da RUM por vários bracarenses que não querem colocar em risco a saúde, principalmente, dos mais idosos.
É o caso de Maria Dias que garante que a noite mais longa do ano será assinalada com uma “sardinhada em família”, porém sem a presença dos avós. No próximo ano, espera que volte a ser possível cumprir a tradição de “à meia noite assistir ao fogo de artifício”.
O mesmo acontece com Rita Sá que acrescenta a vontade de “andar nas diversões e comer farturas”. Juntas recordam as inúmeras vezes que subiram e desceram a Avenida da Liberdade com os tradicionais martelos das festas sanjoaninas. A jovem sublinha a importância das iluminações de São João nas ruas, uma vez que na sua opinião trazem “felicidade”.
“A cidade estava morta e mesmo assim nem parece São João, mas as luzes e cores acabam por trazer um pouco de vida“, afirma. Aos 19 anos diz não concordar com os ajuntamentos que têm tido lugar na cidade, por isso este São João será mesmo vivido em casa.
Com 81 anos, Manuel Vieira nunca viu um São João assim. No seio desta família também haverá uma sensação de vazio, uma vez que a mesma não estará reunida. Contudo, não faltarão as sardinhas e o manjerico fresco adquirido propositadamente esta manhã. “O importante é fazer o possível para nos vermos livres deste vírus”, refere.
Esta noite não haverá milhares de pessoas nas ruas da cidade dos arcebispos, mas no geral os comerciantes não dão como perdida a noite sanjoanina.
Depois de, em alguns casos, terem estado de portas fechadas durante meses esta é a primeira grande oportunidade de negócio. A RUM começou por visitar, esta manhã, o Mercado Municipal Provisório, junto ao Pópulo, onde fomos à procura da rainha dos pratos portugueses nesta altura do ano, a sardinha. No local conversamos com Teresa Macedo que assegura que a procura “pode até ter aumentado”, uma resposta comprovada pelas várias folhas de encomendas. A única problemática recai sobre o preço. “Este ano a sardinha está cara. Para além disso são pequenas”, adianta.
Já André Lopes, chefe de cozinha da Taberna do Migaitas na Sé de Braga, prevê que as reservas fiquem “muito abaixo” do normal. O estabelecimento está a cumprir todas as normas implementadas pela Direcção-Geral de Saúde, logo por isso o restaurante tem actualmente uma lotação reduzida.
“Chegávamos a servir cerca de 250 pessoas em anos anteriores, para esta noite estimamos servir entre 50 a 70 pessoas. Se assim for já será uma boa noite. Estamos convictos que vamos encher”, assegura.
Para os responsáveis da Taberna criar um ambiente sanjoanino é fundamental para cativar os bracarenses que, aos poucos, já começam a sair às ruas do centro histórico. Fitas, balões de São João e música tradicional, aqui, não vão faltar para manter vivo o espírito festivo. Apesar da restrição da autarquia bracarense sob os grelhadores no exterior, o estabelecimento frisa que no menu não vão faltar as sardinhas, febras e caldo verde. Uma medida que não foi bem recebida junto de André Lopes.
“A Câmara Municipal de Braga utiliza a comunicação social para passar informações menos importantes e neste caso, algo essencial para os comerciantes, acabamos por não ser informados atempadamente”, refuta o responsável que dá o exemplo da cidade invicta, onde os comerciantes foram avisados com antecedência.
Na Torrefação Bracarense as vendas diminuíram e, de acordo com Susana Rocha a procura, agora, é visivelmente para festas mais caseiras, o que demonstra que no geral os bracarenses estão a cumprir as normas de segurança. “Vinho e enchidos” são os produtos mais procurados pelos locais e, por alguns turistas que chegam essencialmente da região centro do país.
Recorde-se que, esta noite, a organização das festas de São João de Braga têm previsto um concerto solidário da banda portuguesa Amor Electro, no Grande auditório do Altice FORUM Braga.
