Cessar-fogo entre Israel e Hamas em vigor

Entrou e vigor o cessar-fogo entre Israel e o grupo palestiniano Hamas na Faixa de Gaza. A trégua entre as duas partes chega ao fim depois de 11 dias de combates violentos que provocaram a morte a mais de 240 pessoas, a maioria em Gaza.
Tanto Israel como o Hamas clamam a vitória no conflito.
Pouco depois do cessar-fogo entrar em vigor – às 2h00 (0h00 em Lisboa) -, palestinianos invadiram as ruas de Gaza para celebrar. Enquanto os altifalantes das mesquitas anunciavam a “vitória da resistência”.
No entanto, um responsável do Hamas avisou que “os dedos ainda estão nos gatilhos”.
Já os militares israelitas afirmaram que estavam levantar quase todas as restrições de emergência ao movimento em todo o país.
O que disseram os dois lados
O gabinete do primeiro-ministro israelita foi o primeiro a anunciar um cessar-fogo unilateral. Um anúncio que era esperado, uma vez que as partes já tinham revelado a intenção de chegar a este acordo.
A decisão, na altura unilateral, surgiu depois do aumento da pressão de Washington sobre o Governo de Benjamim Netanyahu.
O ministro israelita da Defesa anunciou no Twitter que a ofensiva em Gaza tinha rendido “ganhos militares sem precedentes”.
Poucos minutos depois, o Hamas confirmou a trégua, afirmando que se trata de uma derrota para o primeiro-ministro israelita.
Ali Barakeh, do Hamas, disse à Associated Press que o cessar-fogo constitui uma derrota para Netanyahu e “uma vitória para a população palestiniana”.
Contudo, o sentimento de alerta vai permanecer até que haja informações mais credíveis por parte dos mediadores deste conflito no Médio Oriente, que se arrasta há décadas.
Barakeh também confirmou que o Hamas foi contactado por responsáveis da Rússia, Egito, Qatar e das Nações Unidas, no sentido de ser alcançada uma trégua com Telavive.
“Celebramos esta vitória agora para que o mundo saiba porque celebramos. Netanyahu, o inimigo sionista, e o seu exército disseram que iam destruir os túneis contra a nossa resistência, mas eu digo-lhe que os nossos combatentes, estão neste momento orgulhosamente nos túneis”, afirmou Khalil al-Hayya, porta-voz do Hamas.
Em declarações à BBC, Basem Naim, membro do conselho de relações internacionais do Hamas, afirmou-se cético sobre a duração da trégua.
“Sem justiça para os palestinianos, sem parar a agressão e as atrocidades israelitas contra o nosso povo em Jerusalém, o cessar-fogo é frágil”.
Já um membro do gabinete político do Hamas, Izzat al-Reshiq, deixou um alerta a Israel.
“É verdade que a batalha termina hoje, mas Netanyahu e o resto do mundo devem saber que os nossos dedos estão no gatilho e continuaremos a aumentar as capacidades dessa resistência”, afirmou à Reuters.
As reações internacionais
O Presidente norte-americano, Joe Biden, telefonou a Benjamim Netanyahu após o anúncio do cessar-fogo e elogiou a decisão de Israel.
“Na conversa que mantive com Netanyahu, louvei-o pela decisão de pôr termo às atuais hostilidades, em menos de 11 dias. Sublinhei também o que disse ao longo deste conflito: os Estados Unidos apoiam totalmente o direito de Israel se defender”, afirmou Biden aos jornalistas.
No entanto, o inquilino da Casa Branca assegurou que os Estados Unidos pretendem continuar com a “silenciosa” e “incansável diplomacia” para resolver o conflito israelo-palestiniano.
“Acredito que os palestinianos e os israelitas merecem igualmente viver em segurança e desfrutar de medidas igualitárias de liberdade, prosperidade e democracia (…). A minha administração vai continuar com a silenciosa, incansável diplomacia nesse sentido”, acrescentou Joe Biden.
O Presidente norte-americano disse que o cessar-fogo é uma “oportunidade genuína” para construir uma paz duradoura no Médio Oriente.
Biden realça que o crédito pelo cessar-fogo é do Governo egípcio, pelo papel que considerou ser crucial e pelo envolvimento “hora a hora” no sentido de interromper as ofensivas dos dois lados, apesar da discrepância bélica entre o estado de Israel e o Hamas e outros grupos armados classificados como terroristas pelos Estados Unidos.
O Presidente egípcio, Abdul Fattah al-Sisi, confirmou que recebeu um telefonema de Biden com “total felicidade”, revelando que “trocaram visões sobre como chegar a uma fórmula para acalmar o conflito entre Israel e o Hamas”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a “um diálogo sério sobre as raízes do conflito”.
“Saúdo o cessar-fogo entre Gaza e Israel depois de 11 dias de hostilidades mortais”, afirmou Guterres, em conferência de imprensa.
Para António Guterres, “o confronto tem de parar de imediato. Apelo a todas as partes para que cessem já as hostilidades e reitero o meu apelo a todas as partes para que haja um cessar-fogo imediato”
“As hostilidades causaram graves danos a infraestruturas civis vitais em Gaza, incluindo estradas e cabos de eletricidade, contribuindo para uma emergência humanitária”, acrescentou.
Guterres também sublinhou que “os líderes israelitas e palestinianos têm a responsabilidade” pelas mortes registadas durante estes dias nos dois territórios e exortou as duas partes a iniciarem um “diálogo sério para abordar a raiz do conflito”.
“Gaza é uma parte integral do futuro Estado palestiniano e não deveriam ser poupados esforços para encontrar uma reconciliação real que coloque um fim à divisão”, sublinhou.
Já o presidente da Assembleia-geral da ONU, o turco Volkan Bozkir, disse que o anúncio do cessar-fogo foi “tranquilizador”, ainda que tenha chegado “tarde”.
A União Europeia também congratula o cessar-fogo, mas lamenta as mortes dos últimos 11 dias.
“A União Europeia congratula-se com o anunciado cessar-fogo que põe termo à violência em Gaza e arredores. Louvamos o Egito, o Qatar, as Nações Unidas, os Estados Unidos e outros que desempenharam um papel facilitador neste processo”, reage Josep Borrell, numa declaração divulgada à imprensa em Bruxelas.
Ainda assim, o chefe da diplomacia da União Europeia adianta: “Estamos consternados e lamentamos a perda de vidas ao longo destes últimos 11 dias”.
Para o Alto Representante da União para a Política Externa, a situação na Faixa de Gaza era “há muito insustentável”.
“Só uma solução política poderá trazer uma paz sustentável e pôr fim de uma vez por todas ao conflito israelo-palestiniano. Restaurar um horizonte político no sentido de uma solução de dois Estados continua agora a ser da maior importância e a UE está pronta a apoiar plenamente as autoridades israelitas e palestinianas nestes esforços”, acrescenta Josep Borrell.
A presidente da Comissão Europeia recorreu ao Twitter para saudar o acordo alcançado entre Israel e o Hamas.
“Exorto os dois lados a consolidar e estabilizar a situação a longo prazo. Só uma solução política trará paz e segurança prolongadas para todos”, escreveu Ursula von der Leyen.
As vítimas mortais
Os mais recentes confrontos começaram a 10 de maio, após semanas de tensão israelo-palestiniana na ocupada Jerusalém Oriental, que culminou em confrontos num local sagrado reivindicado por muçulmanos e judeus. O Hamas começou por disparar rockets após alertar Israel para se retirar do local, desencadeando ataques aéreos de retaliação.
O mais recente reacendimento do conflito israelo-palestiniano, que dura há várias décadas, provocou a morte a pelo menos 232 palestinianos em Gaza, entre os quais 64 menores, e 1620 feridos.
Em Israel, as autoridades contabilizaram a morte de 12 pessoas, entre as quais dois menores, e 340 feridos.
O Hamas não revelou o número de baixas nos combates.
Israel afirma que mais de 4.300 rockets foram disparados contra o seu território por militantes do Hamas e que atingiu mais de mil alvos militares em Gaza.
c/ agências
