Comércio com queda de “80%” na faturação depois do encerramento da UMinho

Uma tarde de sol, com temperaturas amenas. O cenário perfeito para que as esplanadas nas imediações do campus de Gualtar da UMinho estivessem cheias, essencialmente de estudantes. Mas, depois do anúncio do reitor Rui Vieira de Castro, que suspendeu as aulas e encerrou a maioria dos serviços na sequências de um caso confirmado de COVID-19 na academia, estudantes nem vê-los e nas esplanadas apenas cadeiras e mesas vazias. O cenário era extensível a vários estabelecimentos comerciais daquela zona. Cafés e pastelarias praticamente vazios e ruas quase desertas.
A RUM foi perceber o impacto da situação junto do comércio local, que, em alguns casos, aponta descidas na faturação na ordem dos 80%.
“De manhã atendo entre 60 a 70 clientes, ontem atendi 5”
Manuel Silva é proprietário de um café, habitualmente muito frequentado pelos estudantes da UMinho. Desde ontem que o número de clientes reduziu. “Muito menos movimento, não se vê ninguém. Nesta zona, 99% dos clientes são estudantes e se estiveram cá 3% é muito”. Os cerca de “120 clientes” que atende à tarde passaram “a 20”. “De manhã atendo entre 60 a 70 clientes, ontem atendi 5”, frisou o proprietário. Menos clientes, menos faturação. “Está a faturar-se 10% do que se fatura habitualmente. As previsões são péssimas”, alerta.
Ainda que a medida pese nas contas do final do mês, Manuel “apoia a medida tomada pelo reitor”. Mal soube que um aluno do curso de História estava infetado com o novo coronavírus, Manuel Silva tentou, de imediato, perceber se se tratava de um cliente, estando disposto a encerrar o estabelecimento e a submeter-se a um período de quarentena.
Tal não foi necessário, ainda que não ponha de lado essa hipótese caso lhe digam que “é o melhor a fazer”. Por enquanto, tem um desinfectante para todos os funcionários e para os clientes que assim o desejarem. Uma medida “mínima”, que alia a outras como “evitar cumprimentar com contacto físico”.
Vanessa Oliveira é proprietária de um supermercado desde o final de Fevereiro e já enfrenta uma “grande prova de fogo”. Dos “mais de 200 clientes por dia”, contam-se, desde ontem, “cerca de 30”. Praticamente, todos estudantes. Isso reverte-se na faturação que apresenta uma queda de “70 a 80%”. Ainda assim, a proprietária concorda com as medidas tomadas pela academia minhota para “evitar a propagação do vírus”.
Num café daquela zona, cujo responsável prefere não ser identificado, numa tarde de sol normal “já teriam entrado mais de 50 clientes”, esta terça-feira foram servidos apenas “três”. “Nota-se que os estudantes aproveitaram para ficar em casa, mesmo que seja em Braga não vêm para os cafés e evitam locais fechados. Vai afetar o negócio e esperamos que depois desta semana volte tudo ao normal”, desejou.
O bom tempo, há muito desejado pelo comércio local, voltou, mas o novo coronavírus estragou os planos daqueles que agora levam o negócio conforme podem: “há gente, além dos universitários, que vem à noite, que darão pelo menos para aguentar este mês”.
Estudantes aplaudem medidas adoptadas pelo reitor da UMinho
Dos poucos estudantes que encotramos nas esplanadas, a maioria aplaude as medidas adoptadas pela Universidade do Minho. No entanto, há também quem considere “o cancelamento das aulas exagerado”, ainda que “perceba as preocupações”.
Ana Gonçalves estuda na UMinho e acha “que foi necessária” a suspensão das aulas “para conter o vírus”. A mesma opinião tem Luís Cerqueira, aluno do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, que também suspendeu as aulas esta terça-feira. “Acho bem, faz sentido ser alargada toda a gente, mas não estou alarmado”, disse à RUM.
Sofia Marques, aluna da academia minhota, concorda com a decisão de encerrar a universidade depois de ter sido confirmado um caso, considerando apenas que também o campus de Azurém deveria ter sido de imediato encerrado. “As pessoa que estavam cá foram para casa, por isso é que tem pouca gente”, justificou a aluna, alegando que não está alarmada com a propagação do novo coronavírus, já que os mais jovens, diz, são menos “afetados”.
