Confiança classificada: “Uma vitória da cidadania, mas é pena que assim seja”

À segunda “foi de vez”. A antiga Fábrica Confiança é desde esta segunda-feira, 19 de Outubro de 2020, monumento de interesse público.

A primeira tentativa de classificação da antiga Confiança tinha acontecido em 2002, também por iniciativa da sociedade civil, mas o processo foi remetido para a CMB, gerida na altura por Mesquita Machado, que não deu seguimento.

Luís Tarroso Gomes, um dos impulsionadores da Plataforma Salvar a Fábrica Confiança, acompanhou todo o processo. Em Outubro de 2018, a plataforma cívica deu entrada com o pedido de classificação e agora, dois anos depois, o edifício principal da antiga Fábrica Confiança, localizado na Rua Nova de Santa Cruz, freguesia de S. Victor, já consta em Diário da República como património de interesse público.

“É uma vitória da cidadania, mas é pena que tenham que ser os cidadãos a colocarem-se à frente da CMB para ela não estragar mais património”

Ouvido pela RUM, o advogado conhecido na cidade por outras lutas semelhantes, afirma que se fez “justiça”, mas lamenta que tenha sido um processo “inteiramente feito pelos cidadãos e sem qualquer colaboração do proprietário e da entidade que é paga por todos para que se faça o trabalho de protecção da cidade, a Câmara Municipal de Braga”.

Questionado sobre se esta é uma vitória da cidadania, Luís Tarroso Gomes é taxativo, mas lamenta que sejam os cidadãos a travar a CMB “para que não espatife mais património da cidade”.

“Braga podia ter um centro histórico património mundial se não deitasse património pela janela fora”

Recordando a célebre demolição do Castelo da cidade há mais de um século, Luís Tarroso Gomes assume que a cidade, ao longo da sua história, tem sistematicamente “deitado património pela janela fora”, e que a “sorte” de Braga é ter muito património e bastantes elementos históricos. “Cidades com menos história do que Braga conseguiram ser património mundial, portanto, alguma coisa errada andamos a fazer estes anos todos”, critica.

O elemento da Plataforma Salvar a Fábrica Confiança desafia a autarquia a preocupar-se “a sério com o património em todas as suas facetas”, como este património industrial que foi praticamente todo destruído. Na óptica de Luís Tarroso Gomes, se a plataforma não interferisse de forma musculada “a fábrica já não existia”.

A Câmara Municipal de Braga, sugere Luís Tarroso Gomes, deve ter “bom senso, reconhecer o potencial da Fábrica” e aproveitar os fundos comunitários que aí vêm. “Há uma possibilidade de transformar a Fábrica naquilo que ela deve ser que é um pólo cultural da cidade de Braga. Aposte a sério num edifício que tem potencial para um espaço cultural e cívico, aproveitando todas as sinergias nas redondezas, inclusivamente a Universidade do Minho”, insiste.

Em última análise, a Plataforma admite uma residência “verdadeiramente pública e universitária”, na zona do logradouro. Já o edifício antigo e classificado, só pode ser requalificado para fins culturais, seguindo o exemplo de cidades vizinhas, como Guimarães. “Só assim é que Braga dá um salto em frente e dá o exemplo aos privados”, conclui.

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Elsa Moura
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