“Costa quis colocar-se à frente dos partidos de direita no apoio a Marcelo”

O desafio lançado por António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa para a recandidatura a um segundo mandato como Presidente da República é visto por José Palmeira, professor de Ciência Política na Universidade do Minho, como uma jogada de antecipação do líder do Partido Socialista.
O primeiro-ministro referiu ontem, numa visita à Autoeuropa, que gostaria de voltar à fábrica de automóveis no próximo ano na companhia de Marcelo, algo que só seria possível caso o actual chefe de Estado se candidate às eleições presidenciais de 2021.
À RUM, José Palmeira considera que António Costa quis antecipar-se aos partidos de direita e ter em Marcelo o candidato apoiado pelo PS nas presidenciais. “O primeiro-ministro falou na qualidade de líder do PS. Colocou-se à frente de qualquer anúncio formal do seu próprio partido e também do PSD e do CDS-PP, partidos que devem apoiar Marcelo mas que ainda não se manifestaram”.
Depois do repto lançado por António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa fugiu às questões dos jornalistas sobre uma eventual recandidatura mas José Palmeira não tem dúvidas de que o actual chefe de Estado vai anunciar a presença na corrida às presidenciais no verão próximo.
Marcelo poderá ter o apoio de parte da ala da direita e do PS, mesmo que o apoio socialista não seja formal. Os socialistas, que não apresentam um candidato às presidenciais desde 2011 – na altura com Manuel Alegre – podem ter em Marcelo um trunfo para não sairem prejudicados nos resultados e no trabalho conjunto entre Presidente da República e Governo que se seguirá após a eleição.
“Salvo os incêndios de Pedrógão, em 2017, a relação entre Marcelo e Governo tem sido boa, pessoal e institucionalmente. Por outro lado, o PS não tem alternativa vencedora a Marcelo”, diz José Palmeira, que perspectiva, apesar disso, uma candidatura da antiga eurodeputada socialista Ana Gomes.
“O apoio de Costa a Marcelo pode ter dado um sinal a Ana Gomes de que o PS ou apoia Marcelo ou não apoia ninguém. De qualquer forma, não é esse apoio que deve impedir uma candidatura de Ana Gomes. É uma figura com peso político, é mulher – nunca houve uma Presidente da República – e pode ter apoio de uma ala do PS que não se revê em Marcelo”.
Caso Ana Gomes não avance com a candidatura, José Palmeira prevê uma campanha a dois às presidenciais, pelo menos no aspecto mediático. “O actual Presidente da República deve ganhar confortavelmente mas devemos ter o contraposto entre o discurso bastante extremado de Ventura e o discurso ponderado de Marcelo Rebelo de Sousa. A comunicação social vai criar uma bipolarização”, perspectiva.
