Covid-19. Ouro negro e combustíveis vão “continuar a cair”
“O preço do petróleo deve continuar a cair nos próximos tempos”, o que poderá ditar o valor “mais baixo de sempre segundo o professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e investigador do Núcleo de Investigação em Políticas Económicas e Empresariais (NIPE), Luís Aguiar-Conraria.
Aos microfones da Universitária, o investigador frisa que, actualmente, “não existem garantias que contrariem a premissa de que os preços do petróleo vão continuar a cair”. Para o académico o mesmo é esperado no caso dos combustíveis que acabam por não registar uma queda tão acentuada devido à carga fiscal a que estão sujeitos.
Recorde-se que, em Portugal, o gasóleo, combustível mais utilizado pelos portugueses, atingiu mínimos de 2017 e a gasolina valores mínimos de 2014. Ou seja, podem ser adquiridos por aproximadamente 1,22 ou 1,17 euros por litro, respectivamente.
Quanto ao Brent, referência do petróleo europeu, já atingiu o valor mais baixo dos últimos 21 anos. Actualmente cifra-se nos 16 dólares, enquanto que o WTI (West Texas Intermediate), referência para o mercado americano, chegou a -37,63 dólares, o valor mais baixo de sempre. Recorde-se que segundo as “leis” da economia se a oferta aumenta e a procura diminui o preço também diminui.
Dar nota que o Brent é o mercado de referência da Europa, sendo que já não é extraído petróleo deste local.
Segundo o presidente executivo da petrolífera Partex, António Costa e Silva, em entrevista à agência Lusa, os preços dos combustíveis, em Portugal, podem continuar a cair nos próximos dois anos. O que poderá corresponder a uma descida de seis cêntimos por litro.
Descida do petróleo resulta da redução do PIB.
A crise originada pelo surto pandémico do novo coronavírus provocou a redução do PIB europeu e mundial. Situação que reflecte a redução do preço do petróleo. “Quando os países vêm a sua actividade diminuir têm menos necessidades energéticas e, portanto, diminui a procura de matéria-prima. Um resultado da baixa do PIB”, explica.
Luís Aguiar-Conraria frisa que esta situação acaba por ser benéfica para alguns sectores consumidores de petróleo a retomar a actividade depois da crise económica causada pela pandemia.
No entanto, a longo prazo e de acordo com as projecções divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Portugal pode ver a sua dívida pública passar dos 177,7% do PIB de 2019 para os 135% em 2020. Em percentagem do PIB, o FMI prevê que a receita passe dos 43,3% em 2019 para os 42,9% em 2020, voltando a subir para os 43,4% em 2021. O maior impacto deverá verificar-se mesmo na despesa em percentagem do PIB, que subirá dos 43,1% em 2019 para os 49,9% em 2020, baixando para os 45,3% em 2021.
“Esta recessão vai ser longa”, Luís Aguiar-Conraria.
A premissa é defendida pelo investigador do NIPE que realça, contudo que apesar de longa será também “temporária”. Logo a actividade económica vai recuperar e o petróleo voltará a ser necessário. O docente olha ainda para o lado das empresas do sector petrolífero, isto porque caso o preço da matéria-prima continue a cair, estas terão de parar a sua actividade. Uma medida já anunciada, por exemplo, pela Galp que parou com a produção na refinaria de Matosinho e no dia 4 de Maio irá fazer o mesmo na de Sines. A empresa garante que esta decisão deve-se ao facto de a capacidade de armazenamento estar a atingir o limite.
Luís Aguiar-Conraria considera que o futuro da Galp “não está em causa”. Recorde-se que o Estado é o segundo maior accionista da empresa com 7,48%, a que corresponde um dividendo de aproximadamente 23 milhões de euros.
O académico declara que a queda do petróleo é uma consequência “óptima”, uma vez que seria pior para qualquer país ou empresa se o preço da matéria-prima não se tivesse ajustado em baixa face a uma diminuição da procura. “Tornaria a recuperação mais difícil”, afirma.
Vanessa Batista
