“É mais natural que PS queira uma solução que salve o Governo a todo o custo”

José Palmeira acredita que o PS vai preferir ceder às exigências do PCP do que avançar para um cenário de eleições antecipadas, depois dos resultados aquém nas autárquicas deste ano.
Os comunistas anunciaram, esta segunda-feira, que vão votar contra o Orçamento do Estado para 2022, o mesmo aconteceu com o BE, ontem. Junta-se a nega de PSD, CDS-PP, Chega, Iniciativa Liberal e PEV e as abstenções de PAN e das deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues. Desta forma, e mantendo-se as posições até quarta-feira, dia da votação na generalidade, o orçamento socialista ‘chumba’.
“Se as eleições autárquicas tivessem corrido melhor ao PS, nomeadamente se tem reconquistado a Câmara de Lisboa, não tenho dúvidas que António Costa preferia eleições antecipadas. Dado que não correram bem, já não estou convencido disso e, talvez, seja mais natural que o PS, e António Costa em particular, queiram encontrar uma solução que salve o Governo a todo o custo”, disse em entrevista à RUM o docente de Ciência Política da UMinho.
Para José Palmeira, o PS estará hoje, no conselho de ministros extraordinário, “bastante dividido”, porque “está entalado entre o PCP e a União Europeia, que não verá com bons olhos cedências no domínio da legislação laboral, que não tem que ver com o Orçamento, mas que o PCP pôs como condição para aprová-lo, através da abstenção”.
Poderá ainda “haver volte-face, no sentido do Governo aceitar propostas do PCP que até agora não aceitou”
Se na votação na generalidade, agendada para quarta-feira, o OE 2022 chumbar, o Presidente da República já afirmou que vai dissolver o Parlamento e avançar para eleições antecipadas.
José Palmeira diz que, a confirmar-se, os eleitores poderão mostrar, através do voto, que a solução da ‘geringonça’ está esgotada e dar vitória ao PSD. “Se a maioria de esquerda não se enteder o impasse continuaria, partindo do princípio que o PS vai manter a postura de que se precisar do PSD para aprovar o Orçamento o governo cai, aí a situação seria complexa”, apontou. Por outro lado, o docente diz que “os eleitores podem achar que a solução da ‘geringonça’ está esgotada e dar uma vitória ao PSD, faltando saber se o PSD conseguiria formar uma maioria à sua direita ou se poderia governar com uma eventual abstenção do PS”.
Para José Palmeira, “o PCP esticou a corda ao máximo nestas negociações, mas em vez de estar colado ao Governo, e com isso ter alegadamente prejuízos eleitorais, o partido terá chegado à conclusão que, desta vez, não deveria fazer cedências, porque nas negociações anteriores alguns dos aspetos acordados não foram cumpridos pelo Governo”. “O PCP está convencido que é preferivel precipitar uma crise política do que abster-se e aprovar o orçamento”, acrescentou. Ainda assim, com o conselho de ministros de urgência convocado por António Costa para esta noite, José Palmeira acredita que poderá ainda “haver volte-face, no sentido do Governo aceitar propostas do PCP que até agora não aceitou”.
Para o docente da UMinho, Marcelo Rebelo de Sousa “acha que é preferível uma crise que possa ser clarificadora, uma vez que também tem noção que a solução da ‘geringonça’ tem significado uma certa estagnação do país”. “O Presidente da República poderá estar convencido de que esta solução governativa está esgotada e é preferível dar a voz aos portugueses, para eventualmente mudar o quadro partidário”, finalizou.
