“Em momentos de conflito a primeira vítima é a verdade”

Parte da informação que está a ser dada aos portugueses em relação à guerra na Ucrânia não está a ser confirmada. O alerta é deixado pelo professor de jornalismo da Universidade do Minho, Luís Santos.
O investigador considera que nestes cenários sente-se mais uma vez o peso da “crise” que os media portugueses vivem. “Parte da informação que está a ser dada é informação não confirmada e que, uns dias mais tarde, se descobre que não era verdadeira”, afirmou em entrevista à RUM.
Em caus estão, sobretudo, as fotografias e vídeos que são partilhados nas redes sociais, como o Twitter, e que são reproduzidas nos noticiários. “Faço uma distinção grande entre a cobertura mediática que é feita a partir da gestão central dos canais e os repórteres que estão no local”, explicou o docente, dando nota de que “os media portugueses precisam de estar bem preparados e de ter gente que faça a verificação dos factos, das fotografias e dos vídeos que circulam”. “Nada disso está a acontecer. Vemos uma série de informações retiradas de fluxos da internet sem cuidado de confirmar de onde é que isso veio, quem fez, se são imagens do mesmo dia. Isso parece-me fator de preocupação”, lamentou.
“Em momentos de conflito a primeira vítima é a verdade. A propaganda é a principal arma deste conflito”, frisou.
São vários os enviados especiais que os media portugueses enviaram para o terreno. Entre eles, diz Luís Santos, “há gente com enorme qualidade, com muita experiência, e gente com muito pouca experiência e que faz essas coisas de nos dizer como é que estava a comida”. Este facto, frisou, está relacionado “com a estrutura financeira das empresas”. Reconhecendo que nos têm chegado “alguns trabalhos de qualidade”, outros há que”pouco nos acrescentam em termos de conteúdo”.
Por cá, os alinhamentos dos canais informativos focam de forma “claramente excessiva” este conflito. “Quase me apetecia ironizar e perguntar o que aconteceu ao Covid? Se caíssemos em Portugal vindos de Marte e olhássemos para o fluxo informativo desses canais, que emitem 24horas por dia, praticamente não teríamos noção de que teria existido Covid em Portugal”, apontou.
Neste contexto de guerra, Luís Santos defende a existência de “um jornalismo prudente, que é, tendencionalmente de enquadramento”. “Não estamos perto da Ucrânia, precismao de explicar à maioria dos portugueses o que está a acontecer. Não precisamos de cinco em cinco minutos escrever ‘atenção, atenção, atenção’, sim três vezes a mesma palavra, vi eu, numa faixa vermelha nos nosso ecrãs. Temos, naturalmente, uma imensidão de coisas a acontecer ao nível local e regional, mas isso parece-me tendencionalmente subvalorizado”, finalizou.
