EI com exposição que retrata efeitos do colonialismo russo numa fotógrafa ucraniana

Até 26 de outubro é possível visitar a exposição da fotógrafa ucraniana Varvara Uhlik, na Galeria do Paço. O trabalho faz parte do festival Encontros da Imagem (EI) 2024, subordinado ao tema ‘Legados do Colonialismo’.

Em entrevista à RUM, Varvara explica que o trabalho se trata de uma investigação pessoal pela identidade de uma mulher nascida após a queda do império soviético. “Escolhi este tema porque é, literalmente, sobre a minha identidade. É quem eu sou: uma mulher nascida alguns anos depois da queda da União Soviética. E, enquanto crescia, aproveitei a minha infância sem realmente entender o que se passava à minha volta”, conta.

Nascida em Dnipro, na Ucrânia, Varvara lembra-se de ter tido uma infância feliz. “A cidade estava, na sua maioria, sob o controlo russo. Portanto, eu falo russo, mesmo que seja ucraniana”, diz.

Varvara nomeou o trabalho de ‘Sunshine, how are you?’ (Raio de sol, como estás?). Desde que o conflito na Ucrânia começou, em 2022, que os pais lhe enviam uma mensagem todos os dias a perguntar como está. Esta atitude fez com que se apercebesse que não sabia como responder, sentiu-se perdida e confusa sobre quem realmente era.

“Quanto mais a pergunta me era feita, mais eu me questionava porque não sabia ao certo o que responder. Não sei. Não estou habituada a questionar-me sobre como estou e sobre os meus sentimentos. Ficava confusa. Dizia só que estava okay”, completa. 

Desde 2014, a ocupação russa da Crimeia cortou a ligação de Varvara a um lugar que “moldou profundamente” a sua identidade. “Desde o início da ocupação, o meu único acesso à Crimeia tem sido através de arquivos familiares ou do Google Maps. Na sequência da invasão em grande escala do meu país, o meu acesso a elementos que me são queridos – lugares, coisas ou pessoas – está ainda mais reduzido, limitado apenas ao domínio das minhas memórias”, pode ler-se na apresentação do trabalho.