Fazer do telemóvel uma “chupeta” pode levar a problemas de socialização

Utilizar os dispositivos electrónicos como “chupetas” ou brinquedos silenciosos pode contribuir para o desenvolvimento de jovens e adultos com dificuldades em socializar. Esta é uma das conclusões que integra a revista “Comunidade e sociedade sobre crianças, jovens e media”.
De acordo com a investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e do MILOBES – Observatório sobre Média, Informação e Literacia, é fundamental que as crianças aprendam a gerir os seus momentos de “frustração e insatisfação”. Caso contrário, podem tornar-se crianças “mais individualistas e egocêntricas porque lhes falta um conjunto de competências sociais que acabaram por não desenvolver por estarem muito isoladas na sua relação com os ecrãs”.
Os filhos únicos, segundo Sara Pereira, têm demonstrado uma maior dificuldade na relação com terceiros, nomeadamente, em respeitar e compreender o outro. Isto porque acabou por não aprender, desde cedo, a como reagir a essas situações. “Há aqui muitas questões que se colocam em termos de socialização e sociabilidade na relação com os amigos”, sublinha.
Contudo, é de sublinhar que está provado que a introdução das crianças entre os dois e os três anos às novas tecnologias traz vários benefícios ao nível, por exemplo, do despertar para a leitura. A convidada desta noite do programa da RUM, o UM I&D, enfatiza no entanto que os dispositivos não podem ser olhados como baby-sitters. Ou seja, é essencial que os familiares acompanhem o uso dos telemóveis, tablets e computadores. Também fazer perguntas e aproveitar para passar alguns conhecimentos.
No âmbito de um outro projecto, o “Media em Casa”, questionamos a investigadora sobre se as crianças devem, ou não, ver e ouvir notícias. A resposta é positiva, mas com algumas ressalvas.
“As crianças fazem parte do nosso mundo. Não as devemos retirar do mundo. A protecção não é isso, a protecção é ajudar as crianças a lidar com os problemas. Temos de lhes ensinar o que é o mundo e não esconder o mundo das crianças. A criança é hoje, aqui, já um cidadão. Devemos explicar de forma a que consigam compreender sem provocar mais ansiedade”, explica. De realçar que caso a criança demonstre um nível elevado de ansiedade, a título de exemplo, não consiga dormir esta não é uma prática aconselhada.
Sara Pereira defende que os media devem apostar nunca comunicação mais personalizada e direccionada para as crianças. Nos dias de hoje, o canal público televisivo apresenta, uma vez por semana, um noticiário dedicado aos mais novos. Pratica que na opinião da investigadora deveria ser replicada, sendo que as crianças têm o direito à informação.
