Feira de vestuário e calçado do mercado de Braga está a desvanecer na Alameda

Vazia. Era assim que estava, esta quinta-feira perto das dez da manhã, a Alameda do Estádio Municipal de Braga. Apenas uma dezena de vendedores marcou presença no certame que desde meados de Junho, devido à pandemia, está às quintas e sábados, junto à “casa” do Sporting Clube de Braga.

Aos microfones da RUM, a maioria dos comerciantes assegura que as vendas não cobrem as despesas de deslocação. A premissa foi confirmada pelo representante dos feirantes que acrescentou que a autarquia não chegou a cumprir com o prometido, nomeadamente, ao nível da “publicidade” e na criação de “uma carreira directa dos TUB, às quintas e sábados, entre o centro da cidade e a Alameda do Estádio”.

De um total de 110 feirantes que costumavam realizar a feira do Mercado Municipal de Braga, entre 50 a 60 marca presença ao sábado. Já às quintas-feiras, o número, por vezes, não alcança uma dezena. 


“Tenha consciência que nós também temos de dar de comer aos nossos filhos”

Ana Pereira herdou a paixão pelas feiras dos pais que sempre a levaram para todo o lado. Fomos encontrar a comerciante a varrer as folhas junto à sua banca, que diz serem “um perigo” para os fregueses mais idosos. Além disso, se alguma peça tem o azar de cair ao chão já não pode ser vendida pois está toda suja. Claramente descontente com a solução encontrada pelo executivo liderado por Ricardo Rio, a feirante deixa uma mensagem ao edil.

“Se é nosso presidente pense que nós precisamos de comer. Nós não temos ordenado, precisamos dos clientes. Tenha consciência que também temos de dar de comer aos nossos filhos”, alerta. A vendedora confessa que muitas vezes as vendas não cobrem as despesas de deslocação. No Inverno, para Ana Pereira, não há condições quer para feirantes como para os clientes.

“Desde as seis da manhã que estou com as mãos nos bolsos”

Há 20 anos que José Ribeiro faz a feira de vestuário e calçado do Mercado Municipal da cidade dos arcebispos. O vendedor ambulante não esconde o descontentamento e diz mesmo que foram “arrumados para um canto” em que só há “moscas”.

Sem casas de banho são obrigados a utilizar a de um estabelecimento privado que não se encontra nas melhores condições. A segunda opção “é o monte”, confessa. No que toca às vendas, desde as seis da manhã que está na Alameda e até por volta das 9h30 ainda não tinha vendido uma única peça. “Estou com as mãos nos bolsos. Se junto ao Mercado fazia 50 euros, aqui consigo 10”, desabafa.



“Isto foi a melhor solução”. 

A afirmação é de Maria da Silva, vendedora de velas, que diz estar conformada com a decisão tomada pelo presidente da Câmara Municipal de Braga. “Tivemos três meses sem fazer nada. Isto foi a melhor solução. As pessoas falam porque não sabem o que estão a dizer. No geral estou contente pois não há problemas ao nível do estacionamento. Porém, não temos conforto”, admite.

Com o cancelamento das celebrações do Dia de Finados a procura pelos artigos que tem na banca têm vindo a diminuir. Também os fornecedores já deram sinais preocupantes. 

O que pensam os fregueses sobre esta alteração? 

Para Helena Ferreira a mudança de espaço foi “fantástica”, uma vez que permite um maior afastamento entre bancas. “Sinto-me mais segura aqui”, garante. Além do mais há mais estacionamento, o que facilita o acesso à feira. Ora, se esta é a realidade para quem tem carta de condução, para os mais idosos confessa que a tarefa deverá ser mais complexa tendo em conta a falta de carreiras dos TUB.

Para a bracarense, a feira de vestuário e calçado continua a ser uma boa aposta. “Só aqui é que consigo encontrar camisolas interiores e fatos de treino para criança a preços acessíveis e de qualidade”, realça.

Opinião distinta tem Cláudia Igreja que na sua óptica a deslocação da feira veio tirar movimento do centro da cidade dos arcebispos. “Está fraco, não estou a gostar”, diz.

Esta é a primeira vez que Rosa Santos vem, numa quinta-feira, à feira de vestuário e calçado. A falta de escolhas fez com que estivesse pouco tempo no local, mas voltará no sábado. “Se tivesse de vir de autocarro desistia”, sustenta.

Porta-voz dos feirantes acusa o executivo municipal de falta de diálogo.

“Ninguém conversa connosco”, insiste Hélder Oliveira que em declarações à RUM frisa que se no dia da inauguração do renovado Mercado Municipal continuarem sem respostas vão ter de “tomar novas medidas”.

Recorde-se que aquando da reabertura das feiras e mercados, os vendedores de vestuário e calçado não se conformaram com a decisão do edil. Várias semanas consecutivas, no período de horário da feira, às quintas de manhã, duas dezenas de vendedores concentravam-se, em protesto, à porta do edifício da Câmara Municipal de Braga. Apesar da contestação, a autarquia insistiu que esta era a única solução e os vendedores desisitiram das ações reivindicativas.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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