UMinho empenhada em identificar alvos terapêuticos para tratar infeções fúngicas

A candidíase invasiva é uma doença potencialmente fatal com uma taxa de mortalidade entre os 20% e os 50%. A investigadora de pós-doutoramento do CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Universidade do Minho, Rosana Alves, recentemente galardoada com o Prémio Jensen, está a estudar um dos principais agentes causadores das candidíases, a ´Candida albicans`.
O grupo da UMinho identificou uma família de transportadores de nutrientes com 10 membros nesta espécie. Neste momento, Rosana Alves está a dar continuidade a este trabalho na KU Leuven, na Bélgica, onde irá realizar testes em modelos ´in vivo`, de modo a “caraterizar esta família de transportadores de nutrientes” e qual a importância dos mesmos para a adaptação da espécie no corpo humano.
Os casos mais graves de infeção dizem respeito a candidíases invasivas que podem ser do sangue, sistema nervoso central, órgãos internos, entre outros. Os doentes mais vulneráveis são “indivíduos com o sistema imunitário comprometido”, como é o caso de “pessoas idosas ou pacientes com cancro”.
Em entrevista ao UMinho I&D, a investigadora confessa que este género de infeções são de difícil tratamento, pois conseguem infetar vários órgãos. “A classe de antifúngicos é muito reduzida e estas espécies são muito semelhantes às nossas próprias células”, frisa.
O objetivo da equipa, liderada pela professora Sandra Paiva, passa por identificar transportadores nesta família de fungos patogénicos, que possam ser utilizados como alvos terapêuticos. Este será o primeiro passo para conseguir desenvolver antifúngicos mais eficazes. O diagnóstico é outro dos problemas, visto que muitas vezes é mal feito. A resposta poderá estar num PCR com recurso a uma amostra biológica do local onde a infeção está a ocorrer.
“Estas infeções são recorrentemente confundidas com infeções bacterianas. O médico prescreve um antibiótico que vai eliminar todas as bactérias que, muitas vezes, até ajudam a controlar certos níveis destes fungos”, ou seja, nestes casos os antibióticos não são a solução, visto que os fungos continuam a crescer.
“Portugal continua a não investir na ciência em comparação com os países do Norte da Europa”.
Em setembro, Rosana Alves regressa à Bélgica onde está a dar seguimento ao trabalho de investigação galardoado com o Prémio Jensen. A investigadora da UMinho foi a primeira portuguesa a vencer o galardão entregue pela Federação Europeia das Sociedades de Microbiologia, de 2 em 2 anos, a um jovem cientista europeu no início de carreira.
Questionada sobre as principais diferenças entre realizar investigação em Portugal e na Bélgica, Rosana aponta o tempo.
“Os investigadores na Bélgica estão mais focados no trabalho. Um investigador em Portugal, está preocupado com muitas mais coisas que vão para além do seu projeto de investigação. Muita burocracia, além de lecionar aulas, o que acaba por nos reduzir um bocadinho o tempo que temos disponível para a investigação. Acabamos por ter que trabalhar mais do que os outros para conseguirmos ser competitivos. Infelizmente, o nosso país continua a não investir na ciência”, lamenta.
– JÁ PODE OUVIR A ENTREVISTA AO UMINHO I&D NA INTEGRA AQUI –
