Futebol. “Acho que a vontade de exercer a profissão vai suplantar tudo”

Três meses depois, a primeira liga de futebol está de regresso, mas com regras apertadas. Devido à pandemia, o campeonato foi suspenso a dez jornadas do fim e vai retomar esta quarta-feira, prolongando-se até ao final de Julho com jogos quase todos os dias.

Até ao final da prova, os atletas terão de cumprir um plano de rastreio à Covid-19, que pressupõe a realização de testes de diagnóstico 24 horas antes de cada partida. Ainda assim, Jorge Silvério considera natural haver “um pouco de receio” por parte dos jogadores de contraírem a doença, tal como já aconteceu.

O especialista, doutorado em Psicologia Desportiva pela Universidade do Minho, explica que esse sentimento pode surgir “não tanto por causa dos futebolistas em si, visto que, devido à modalidade que praticam e à idade, não são propriamente um grupo de risco, mas sobretudo em relação a familiares que possam ser mais velhos ou doentes”. “Todos sabemos que isto é muito frágil e que podem haver retrocessos”, acrescenta.

A juntar a essa nova realidade, há outros factores adicionais, como o facto de os atletas regressarem depois de um longo período de ausência de jogos, ainda que tivessem existido treinos, para realizar um leque reduzido de partidas, ao contrário do que costuma acontecer.

Que impacto pode ter a ausência de adeptos?

Por outro lado, os atletas vão ter de se adaptar a um novo cenário dentro de campo, com as partidas a serem jogadas à porta fechada. Jorge Silvério realizou o estudo ‘Vantagem de jogar em casa: mito ou realidade?’, em que analisou as partidas disputadas na primeira liga de futebol entre 1995/1996, época a partir da qual as vitórias começaram a valer três pontos, e 2012/13. De acordo com as conclusões, a vantagem “claramente existe”, variando de 57 % a 67%.

Entre os factores explicativos que motivam esse resultado, estão a familiaridade e a aprendizagem relativamente ao recinto de jogo, as tácticas utilizadas, o impacto da viagem na equipa visitante e variáveis psicológicas e biológicas. No entanto, “o que pesa mais”, segundo o especialista, é “a presença de adeptos”.

Posto isto, Jorge Silvério considera que essa privação, resultante das medidas impostas pela Direção-Geral da Saúde e pelo Governo, pode ter alguma impacto no desfecho das partidas, acrescentando, ainda assim, que há “um conjunto de iniciativas que podem ser feitas, como a colocação de cachecóis ou de fotografias de adeptos nas bancadas, a exemplo do que já aconteceu na Alemanha”, para atenuar esse factor.

As quatro fases e “a grande capacidade de adaptação” dos seres humanos

Depois de os atletas terem passado por quatro fases – choque causada pela suspensão da prática da modalidade, adaptação aos treinos em casa, incerteza quanto ao futuro e reacção ao anúncio do regresso do campeonato -, tal como sustenta, o especialista na área da psicologia desportiva acredita que “a esperança e a vontade de os jogadores voltarem a exerecer a profissão vai suplantar tudo”.

“Como os seres humanos têm uma grande capacidade de adaptação, acho que rapidamente os jogadores vão interorizar isto e entrar no espírito e vai ser quase um jogo semelhante àqueles que existiam antes, pese embora estas limitações”, refere. 

A primeira liga de futebol regressa esta quarta-feira com as partidas Portimonense-Gil Vicente, às 19h, e FC Famalicão-FC Porto, às 21h15. Quanto às restantes equipas minhotas, o Vitória SC recebe o Sporting na quinta-feira, às 21h15, o SC Braga defronta o Santa Clara, em Oeiras, na sexta-feira, às 19h, e o Moreirense joga no terreno do Boavista no sábado, às 21h15.

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Tiago Barquinha
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