Governo cancela programa cultural inclusivo. “Tiraram-nos o chão”

O Governo cancelou o programa ‘Cultura para Todos’, iniciativa lançada em Agosto do ano passado que se destinava à criação de projectos culturais para promover a inclusão e a coesão de territórios fora dos grandes centros urbanos.

Financiada por fundos europeus, e com o intuito de cobrir as regiões do Norte, Centro e Alentejo de Portugal, através da colaboração entre municípios e comunidades intermunicipais (CIM), a iniciativa é cancelada numa altura em que muitos dos projectos apresentados pelos artistas já se encontravam em desenvolvimento.


Na CIM do Cávado – composta pelos municípios de Amares, Braga, Barcelos, Esposende, Vila Verde e Terras de Bouro – , mais de 50 agentes culturais concorreram ao programa e, com a decisão governativa, viram “as esperanças serem defraudadas”, revela à RUM Ricardo Rio, presidente do organismo regional.

“Face à situação difícil que muitos agentes culturais hoje vivem, a decisão do Governo foi um completo frustrar de expectativas. Este programa tinha uma dimensão muito interessante porque tinha impacto sobre os próprios agentes mas também sobre a comunidade”, lamenta.

Um dos projectos incluídos no ‘Cultura para Todos’ e que agora caiu é o Inpulsar (Inovação e Pulsar), coordenado por Ana Caridade, responsável da plataforma cultural Mosaico. O projecto ia trabalhar, durante dezoito meses, o cruzamento entre dança, vídeo e performance com mais de 100 pessoas de deficiência da região do Cávado.


A artista viu agora o desenvolvimento da sua ideia cair, colocando em causa “meses de trabalho”. “Tiraram-nos o chão, este projecto seria uma bóia de salvação no meio desta pandemia, dos cortes todos feitos na cultura. Estamos a falar de centenas de profissionais que estavam a contar com este financiamento para os próximos dois anos”, refere.

Ana Caridade criou uma petição online juntamente com a associação ondaamarela e o artista bracarense Pedro Santos – que trabalhou no concerto de comunidade de António Variações, no ano passado – para travar o cancelamento do programa inclusivo. A petição foi lançada no domingo e, na tarde de segunda-feira, já contava com mais de 800 signatários.


Pedro Santos ia colaborar no projecto de Ana Caridade e tinha um outro em perspectiva que trabalhava com doentes de parkinson. A ideia seria criar uma peça musical original com os doentes, em colaboração com a Universidade do Minho e a Unidade de Neurologia do Hospital de Braga.


Os projectos não vão agora prosseguir, depois de o Governo ter optado pelo cancelamento do ‘Cultura para Todos’, uma decisão justificada pelas declarações da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, ao Expresso, nas quais disse que os projectos não poderiam avançar enquanto não se descobrisse uma vacina para a covid-19″, já que trabalhavam com pessoas de grupos de risco. Na resposta ao cancelamento da iniciativa ‘Cultura para Todos’ o Governo anunciou a atribuição de 30 milhões de euros para os municípios do país investirem na cultura local.

“Não podemos aceitar que digam que este projecto já não dá e depois decidam alocar as verbas às Câmaras Municipais, sem critério. No meu caso, estou a falar de projectos verdadeiramente inclusivos, nos quais já tinha investimento feito”, lamenta Pedro Santos.

Ana Caridade também rejeita o argumento do Governo em cancelar o programa por causa dos grupos de risco e assinala que os projectos com os quais já trabalhava seriam de fácil readaptação. “Teríamos que olhar novamente para a ideia e reinventá-la, é isso que o artista faz. Ainda para mais, estamos a falar de projectos que trabalham com público afastado das cidades, temos sempre de nos adaptar para chegar a eles”, estabelece.

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Pedro Magalhães
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