“Há treinadores que vão de insucesso em insucesso e encontram sempre uma porta aberta”

Depois de duas épocas e meia afastado dos relvados, Manuel Machado voltou esta temporada a treinar. Em declarações proferidas no RUM(O) Desportivo, emitido na sexta-feira, o técnico do Berço SC adianta que teve várias propostas nesse hiato de tempo, mas nenhuma da primeira divisão portuguesa.


A experiência anterior terminou ainda na primeira metade da temporada 2017/2018, após quatro meses ao serviço do Moreirense. “Interrompi a minha actividade depois de duas passagens menos conseguidas: pelo Arouca, que durou um mês, e pelo Moreirense. Principalmente esta última foi uma situação que me desagradou muito”, refere.

Com 462 jogos disputados na primeira liga, divididos por 18 épocas, 12 delas completas, o treinador de 64 anos conta que foi necessário fazer “um período sabático de reflexão relativamente à quebra verificada nos últimos trabalhos”.

Ao longo desse período, Manuel Machado recebeu convites da segunda liga, do futebol africano e do asiático, que, no entender, “não foram suficientemente apelativos, tanto no plano desportivo como no financeiro”.


Dos “lobbies de agenciação” ao descarte dos treinadores com currículo

O técnico de 64 anos refere que apenas “estranharia” o facto de não ter recebido qualquer proposta do principal escalão do futebol português “se a experiência e o currículo valessem alguma coisa”. “Hoje, os critérios que suportam a escolha dos treinadores têm muito pouco a ver com isso”, acrescenta.

Considerando que “existem dois clubes e um agente que dominam 90% daquilo que é a colocação deste ou daquele treinador”, Manuel Machado diz que “só estando debaixo desses ‘lobbies de agenciação’ é que se consegue trabalhar na ligas profissionais”.

No que diz respeito ao factor idade, o actual timoneiro do Berço SC lamenta que seja “difícil” ver um treinador com mais de 50 anos nessas divisões. “Os clubes têm uma muita maior apetência por treinadores inexperientes e sem currículo. Há treinadores que vão de insucesso em insucesso e encontram sempre uma porta aberta à frente”, reflecte, referindo que é “uma dinâmica nova no país que não é transversal aos principais campeonatos europeus”.

Manuel Machado critica “o desrespeito pela regulamentação”


Uma das situações que mais preocupa Manuel Machado é a existência de vários técnicos que não têm o nível exigido para assumir oficialmente o papel de treinador principal. 


“Existe um desrespeito pela regulamentação. Tão grave quanto isso é a própria classe de treinadores, com falta de brio e de ética, vender a sua carteira profissional. Treinadores que dão a cara e legitimam um trabalho de um terceiro que não teve cuidado de, em tempo útil, se precaver e fazer a sua formação”, analisa.

Vários treinadores e dirigentes justificam esta situação com o tempo de duração do curso. Para Manuel Machado, isso é “uma falsa questão”, dando o exemplo dos atletas que transitam para treinadores. O técnico natural de Guimarães lembra que o cumprimento dos quatro níveis dura sete anos, em média, e refere, por isso, que os futebolistas têm “mais do que tempo para irem fazendo a sua formação”.


“É preciso é começá-lo não aos 35, mas sim aos 25. Há muita gente que quer comandar um batalhão sem ter feito recruta nem tão pouco especialidade”, acrescenta.



Manuel Machado e o eventual regresso à primeira liga: “Nunca bati à porta de ninguém para ser convidado”

Agora no terceiro escalão do futebol português, Manuel Machado explica que o compromisso assumido com o Berço SC resultou da “vontade demonstrada” pelos dirigentes e pelo “entusiamo” e pela “paixão” que mantém. “Não perdi condição física, condição intelectual nem conhecimento do próprio jogo”.

Apesar do cenário que retrata das provas profissionais, o treinador que já passou por clubes como Vitória SC, Nacional, Académica ou SC Braga não descarta a possibilidade de regressar à primeira liga.

“Nunca bati à porta de ninguém para ser convidado. Foram sempre os presidentes que me abriram a porta do seu clube. A minha postura é essa. Se depender de mim andar a mover influências ou a arranjar um agente para fazer markeing do meu nome, não irá acontecer. A chegar o convite, cá estaremos para dar uma resposta positiva uma vez mais”, conclui.

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Tiago Barquinha
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