Homenagem a Wladimir Correia Brito relembra percurso dedicado à liberdade, à justiça e ao saber

Considerado o “pai” da Constituição de Cabo Verde, Wladimir Correia Brito, professor jubilado e fundador da Escola de Direito da Universidade do Minho (EDUM), foi homenageado na quinta-feira, 23 de outubro, no Salão Nobre da Reitoria da UMinho. O tributo, promovido pela academia minhota e pela Comissão de Homenagem aos Democratas do Distrito de Braga (CHDDB), distinguiu a sua ação no direito internacional público e constitucional e na defesa da cidadania e da democracia em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, país onde nasceu, e em Portugal, onde participou, enquanto militar, na Revolução de Abril de 1974.

Perante uma sala cheia de membros da comunidade académica, representantes do Governo cabo-verdiano e do poder local, Wladimir Brito foi reconhecido pela dedicação “à liberdade, justiça, direitos humanos e ao saber”, bem como pelo legado na academia minhota e no espaço lusófono. No uso da palavra, sublinhou a “interdependência das gerações” na construção de novas conceções de democracia e práticas de liberdade, apelando aos jovens que “assumam as rédeas” sem esquecer o contributo das gerações anteriores.

“É preciso transmitirmos a nossa experiência e aprender com a deles. Não podemos ignorar a importância da tecnologia, o seu uso responsável e os seus efeitos na sociedade; é no partilhar de experiências que saberemos lidar com esta nova realidade”, afirmou.

Num discurso marcado pela exaltação da “diferença e experiência” das gerações, o professor pediu aos jovens que “assumam as rédeas do poder” sem esquecer o contributo das outras gerações, como a dele, que contribuíram para “o desenvolvimento da relação dialéctica entre a paixão e a razão”.

“É preciso dizer-lhes a nossa experiência e aprender com a experiência deles, porque nós não podemos ignorar a importância da tecnologia, o seu uso racionalizado e os seus efeitos na sociedade, e portanto nós temos de tocar experiências para poder saber lidar com esta nova tecnologia”, disse ainda.

Cerimónia encheu o Salão Nobre e reuniu colegas, autoridades e sociedade civil

À margem do evento, Wladimir Correia Brito confessou à RUM que “não esperava tal tributo”, mas ficou agradado e “honrado porque é uma homenagem que vem da sociedade civil”. “Ninguém deixa de ficar sentido e até sensibilizado com homenagens desta natureza, portanto eu também não vou com falsas humildades, mas fiquei sentido e muito sensibilizado com essa homenagem”, acrescentou.

Já para Paulo Sousa, coordenador da CHDDB, a realização desta homenagem era “óbvia e de uma importância enorme”, até porque o evento contou com a presença de representantes da Embaixada de Cabo Verde e do poder local, “juízes desembargadores, advogados, professores que vieram de Barcelona, Santiago de Compostela e de vários pontos de Portugal”. 

Há aqui uma unanimidade, que acho que é ilustradora da representação que tem ainda para nós, hoje, o significado da memória do que representa o professor Wladimir Brito

A par do discurso em vídeo de José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, em que o governante louvou “a vida e percurso ao serviço do saber, à causa pública e à docência”, também Rui Vieira de Castro, reitor da UMinho, classificou a cerimónia como um “motivo de satisfação” por poder celebrar o exemplo de compromisso do docente jubilado com “com a jurisprudência, a cidadania e, obviamente, a academia”. “O professor Wladimir é uma pessoa com uma história muito particular dentro da EDUM, porque ele faz parte daquele grupo inicial a quem coube a tarefa de criar e de desenvolver a estrutura, e isso é algo a que a Universidade tem de ser muito sensível e tem de estar grata pelo trabalho que foi feito”, referiu.

Numa perspetiva mais pessoal, a docente da EDUM, Maria da Assunção Vale Pereira revelou à RUM que a “amizade entre os dois foi foi quase instantânea” por duas razões: a sua abertura ao debate e a sua atitude coerente em relação aos seus princípios e valores. De acordo com a docente, “o espírito interventivo faz tão parte do seu ser” que nem a doença o demoveu “minimamente” de participar nos eventos em que era solicitado e a “ter ideias novas”.

“É uma pessoa que não surpreende porque atua de acordo com os seus valores, ou seja, se nós sabemos que a questão é esta, conhecemos os valores dele, sabemos quais são as respostas”, frisou.

Completou o seu percurso académico na Universidade de Coimbra, foi professor catedrático da Escola de Direito da UMinho e da Universidade Portucalense. Acumulou, ao longo da carreira, cargos de presidente de associações e observatórios e foi diretor-geral da revista ‘Scientia Ivridica’ e da ‘Revista Jurídica Portucalense’, trabalhos que desempenhava em simultâneo com a carreira de jurista.

Foi condecorado com a Primeira Classe da Medalha de Mérito pelo Presidente da República de Cabo Verde e foi-lhe atribuído o Estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria pela Assembleia Nacional de Cabo Verde. Recebeu também a Medalha da Marinha do Brasil e a da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Brasil), entre outras, e foi membro da lista de Conciliadores das Nações Unidas, designado pelo Governo de Portugal.

Partilhe esta notícia
Redação
Redação

Deixa-nos uma mensagem

Deixa-nos uma mensagem
Prova que és humano e escreve RUM no campo acima para enviar.
Sérgio Xavier
NO AR Sérgio Xavier A seguir: Sara Pereira às 15:00
00:00 / 00:00
aaum aaumtv