Imigrantes aprendem Português para facilitar integração em Braga

Segunda-feira, 5 de setembro. Às 10h00, numa das salas da EB 2/3 André Soares, já se encontrava a professora Flora Osório, e o casal italiano Manuela Sedmach, de 69 anos, e Fabiano Giovognomi, de 57. Pouco depois, chegou Alexandre Orlicki, de 20 anos, em Portugal desde julho, ao abrigo do programa ERASMUS e como voluntário internacional da Cruz Vermelha. Alexandre vinha acompanhado pela colega Zoe, acabada de aterrar em Portugal, proveniente de Inglaterra.

Estes são apenas quatro dos sete alunos que, durante o mês de setembro, vão acompanhar a professora Flora numa viagem pela literatura, gramática, história e cultura portuguesa.

Por estas aulas já passaram pessoas do Sudão do Sul, Nigéria, Egipto, Síria ou Ucrânia. O objetivo era comum: aprender a Língua Portuguesa, para facilitar a sua integração na cidade.

Estas paredes já ouviram poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa ou José Saramago. Hoje, à 13.ª aula, o texto é da autoria de Luís Sepúlveda: “O primeiro voo”.

“Gosto muito de Portugal, há tranquilidade e pessoas muito gentis”

Manuela e o marido estão em Portugal desde dezembro de 2020. Venderam a casa em Itália e escolheram Braga para a nova morada. Ela é artista, reformada. Começaram por conhecer Lisboa, depois o Porto e acabaram na cidade dos arcebispos. Chorou ao entrar na Estação de São Bento, emocionada com a beleza de um país, onde se sente “em casa”.

“Vi galerias, artistas. Gosto muito de Portugal, há tranquilidade e pessoas muito gentis”, disse em entrevista à RUM.

Alexandre é voluntário na Cruz Vermelha e ajuda em vários projetos de apoio social, no departamento da Juventude. É um dos jovens que desenvolve “atividades com meninos vulneráveis, em Santa Tecla”.

Veio da Universidad de León para a Universidade do Minho, para estudar Ciências Sociais.

Flora Osório dá aulas há 53 anos, formada em filologia germânica, domina vários idiomas: inglês, francês, espanhol e alemão. Por isso, quando é necessário, faz a tradução para que estes alunos consigam acompanhar a matéria.

“Espessa chuva. O que quer dizer espessa?”, questionou a docente. Logo de seguida, Alexandre respondeu: “uma grande chuva”. A professora escreveu no quadro as palavras sinónimas para enriquecer o vocabulário de quem a ouvia. Todos tiravam notas.

Alexandre recorre ao espanhol para perceber o português, mas espera deixar a pronúncia do país vizinho “em dois meses”, para falar melhor o nosso idioma. Melhorar a conjugação e a gramática são outros objetivos.

Manuela gosta de “ler livros” e diz ser “muito fácil”, mas compreender a pronúncia é mais difícil. Apaixonou-se por Fernando Pessoas, que diz ser o ‘seu amor’, e, mais recentemente, descobriu Sophia.

Alexandre diz ser uma “bênção” ter aulas de português com a professora Flora

Flora Osório é voluntária e ensina por gosto. “Convidaram-me para isto e estava reformada. Quando me disseram, aceitei para ajudar as pessoas, ainda por cima língua portuguesa, que é o que eu mais gosto”, revelou.

Manuela elogia os métodos de ensino da docente. “A professora Flora fala de tudo, da história de Portugal, gramática, leitura. Gosto muito quando a professora lê”, referiu.

Alexandre diz ser uma “bênção” ter aulas de português com a professora Flora, porque “permite aceder a um universo mais literário, de gramática e conjugação e mais vocabulário”.

A delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa assinou um protocolo com o Agrupamento de Escolas André Soares, com vista ao ensino gratuito da língua portuguesa a imigrantes, para facilitar a sua integração.

Vera Lima, coordenadora da juventude na delegação de Braga da CVP, diz que, “anualmente, há seis a sete voluntários internacionais”, mas também as pessoas do Serviço de Apoio ao Imigrante usufruem destas aulas. “Queremos que estas pessoas sejam autónomas e que se identifiquem com o país e saber comunicar em português é muito importante”, explicou.

Os interessados devem “entrar em contacto com a Cruz Vermelha” e serão “encaminhados para o serviço que mais se adequada, para se perceberem as necessidades, sejam alimentares, de vestuário ou apoio linguístico, e ajudar em todas elas”. Manuela e o marido não tencionam sair de Portugal, pelo menos enquanto não dominarem o idioma. Alexandre já tem data de regresso a França: julho de 2023. Depois, poderão dar lugar as outras pessoas, de outros países, que queiram, como eles, saber falar para melhor se integrarem na sociedade. 

Em Braga, seja qual for a pronúncia, o saber não ocupa lugar. E já dizia Ary dos Santos.. “é preciso aprender a escrever, mas também a viver, mas também a sonhar”, e, por aqui, é o sonho que comanda a aula. 

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Liliana Oliveira
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