Má gestão de habitats artificiais ameaça espécies de água doce de todo o mundo

A gestão danosa ou falta de condições em habitats artificiais está a ameaçar espécies de mexilhões de água doce. O alerta é dado pelo investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho, Ronaldo Sousa. O coordenador deste projeto Europeu, que será desenvolvido nos próximos três anos, envolve 36 autores de 22 nacionalidades distintas.
Em conjunto os investigadores recolheram 709 registos de habitats artificiais de todo o mundo, colonizados por 228 espécies de mexilhões de água doce. O trabalho foi publicado, recentemente, na Global Change Biology que segundo o investigador da UMinho é “uma das melhores revistas em ciências biológicas”, logo esta publicação acaba por ser “gratificante”.
Em declarações à Universitária, Ronaldo Sousa refere que é possível colocar um ponto final nestas “armadilhas ecológicas”. A resposta está, a título de exemplo, numa melhor gestão dos níveis de água existem nestes habitats artificiais ou quando são feitas as limpezas destes habitats artificiais, como canais de rega, o responsável deve estar “ciente da presença destes organismos”, de modo a preservar a fauna e flora existente no local. Ou seja, as espécies não devem ser retiradas juntamente com os sedimentos.
No entanto, alguns dos habitats artificiais quando bem utilizados e monitorizados podem ser benéficos. Ronaldo Sousa dá o exemplo do canal de rega em cimento no rio Bouhlou, em Marrocos, que é ideal para o mexilhão Pseudunio marocanus, uma das 100 espécies mais raras e ameaçadas do mundo.
O caso português
Também em Portugal há habitats artificiais colonizados, como canais de moinhos antigos com uma grande diversidade de organismos, incluindo o mexilhão de rio Margaritifera margaritifera, espécie criticamente ameaçada na Europa. Em termos de gestão, há um bom exemplo na mini-hídrica de Mirandela, no rio Tua, cujos trabalhos de manutenção em 2018 incluíram a monitorização das populações de bivalves e peixes; os indivíduos que ficavam em risco eram translocados para águas mais profundas. Um ano antes, uma ação de manutenção num açude em Vila Real, no rio Corgo, deixou os animais sem água, levando à sua morte.
