Mais de 60 famílias brasileiras entram em Braga todos os meses

Em 2023 o cenário não melhorou, aliás, depois de um decréscimo de entrada de brasileiros de classe média e baixa na cidade de Braga no ano passado, este ano, os números voltaram a disparar, e só na Associação União, Apoio e Integração (UAI), lançada em Braga há cinco anos, uma média de sessenta famílias brasileiras estão a entrar na cidade todos os meses, recorrendo à ajuda desta estrutura. Os dados são apresentados à RUM pela porta-voz, Alexandra Gomide, ela que admite que muitos dos que procuram a associação chegaram a Portugal sem trabalho, com pouco dinheiro e sem encontrar a casa que arrendaram à distância, mas que afinal não existia.
Com poucas economias no bolso, procuram a associação ou mesmo as igrejas para pedir ajuda. Regra geral são famílias com filhos. Só em outubro, passaram pela UAI 74 novas famílias brasileiras interessadas em residir e trabalhar na cidade de Braga, mas que necessitam de algum tipo de orientação e acompanhamento.
Muitas das famílias são burladas em serviços a que recorrem ainda no Brasil, designados ‘relocation’ que garantem uma assessoria para as pessoas que estão a mudar-se para Portugal e pretendem alugar uma casa e até contratar serviços básicos como a ligação da luz, água, gás, compra de móveis, escolha de escolas, planos de saúde, e outros.
Chegam a Braga e percebem que a casa que pensam ter alugado não passou de uma burla
“A média de atendimento tem sido sessenta novas famílias por mês. É uma média parecida com a do ano passado (80 novos atendimentos por mês). Vamos até restruturar a nossa forma de atendimento, justamente porque está a aumentar a cada mês o número de atendimentos”, começa por referir Alexandra Gomide aos microfones da RUM. Lembra que são apenas registos de quem procura a UAI e diz que muitos outros “estão a ser acolhidos pelas igrejas, por familiares e amigos”.
Entre as famílias que estão a chegar são “muitos” os relatos de vítimas de burlas. “Chegam com aqueles pacotes pagos e muitos acabam na UAI porque vêm com imóvel alugado, mas chegam aqui e o imóvel não existe. Recebemos muitas vítimas de ‘relocation’ nesse sentido e procuramos que a pessoa faça a denúncia”, denuncia.
A responsável da UAI garante que os serviços prestados a quem recorre à associação não são cobrados e que a equipa é apenas composta por voluntários da comunidade. Em casos extremos a própria associação já teve de encontrar casas de membros da comunidade brasileira para evitar que famílias burladas ficassem a dormir na rua, isto porque nalgumas situações chegam sem economias que permitam alugar uma casa ou um quarto na cidade, pelo menos no imediato.
Advogado brasileiro a viver em Braga denuncia redes ilegais e apela à intensificação de informação oficial no Brasil que esclareça a realidade portuguesa e trave a vinda de muitos brasileiros
Bruno Gutman é um advogado brasileiro a viver e a trabalhar em Braga há vários anos. À RUM alerta para a partilha de informações falsas no Brasil sobre Portugal, facilmente detetadas nas redes sociais e no Youtube, que continuam a ‘enganar’ uma franja da população menos informada sobre a realidade do país, nomeadamente no que respeita a salários e custo de vida.
Também ele refere que há redes e até profissionais que tentam vender serviços que não podem ser vendidos junto desta comunidade no Brasil e que passam uma imagem de que é fácil viver em Portugal. “Passam a mensagem de que “Portugal é um estado do Brasil, um sítio muito fácil de emigrar por causa da facilidade da língua” e omitem informações como a necessidade de documentos diferentes, requisitos diferentes para procurar emprego ou diferenças na documentação profissional.
“Há quem chegue a Braga com 500 euros no bolso, ilegal, sem casa e sem trabalho”, Bruno Gutman, advogado
A desinformação chega a ser “gritante” já que alguns fazem a conversão do salário mínimo português comparando-o com o salário mínimo brasileiro sem perceberem que o custo de vida é também ele bastante diferente. “Transformam em reais e dá três ou quatro vezes o valor do salário mínimo brasileiro, só que têm de entender que vão pagar as despesas em euros”, nota.
“Sei de pessoas que chegaram com 500 euros no bolso, achando que podiam sustentar-se sendo que a pessoa veio completamente ilegal, sem nenhum tipo de visto. A pessoa precisa de fazer uma manifestação de interesse, obter documentação, encontrar emprego, arrendar um imóvel ou um quarto. Em quanto tempo é que vai gastar esses 500 euros? Isso acontece, há muitos casos deste tipo. Tanto é que muitos regressam ao Brasil”, admite.
Youtube inundado de testemunhos de brasileiros a viver em Portugal
Consultando o Youtube e procurando vídeos relacionados com brasileiros a residir em Braga são dezenas as partilhas de experiências de diferentes elementos da comunidade brasileira. Muitos deles apresentam as paisagens da cidade, os restaurantes e até as suas próprias casas, alegando que a integração é fácil a todos os níveis.
No entanto, os vídeos mais recentes já começam precisamente a alertar para o custo de vida e para aquilo que devem saber caso decidam viver em Portugal, referindo o aumento do custo de vida, o preço elevado das casas e os entraves na procura de trabalho.
Há menos de um mês, em declarações ao Diário de Notícias, a coordenadora da plataforma de dados de brasileiros no exterior notava que a vaga de migração brasileira em Portugal vem predominantemente das grandes cidades, em família, de várias classes sociais e tem entre 20 e 40 anos.
O SEF precisa que 393 000 cidadãos brasileiros residem em Portugal, com maior incidência nos concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Porto e Braga. [Um número que não abrange quem tem dupla nacionalidade].
Como é sabido há também um crescimento dos brasileiros com um nível de escolaridade superior, da classe média/alta. Muitos procuraram Portugal nos anos mais recentes para viver durante a reforma com qualidade de vida e segurança.
