Metade dos produtos entregues no Ponto Vermelho não podem ser aproveitados

“Uma, duas, três camisolas, uma, duas, três, quatro, cinco, seis calças…”. Desejada Naiatche Mendes não tem mãos a medir. A estudante da Universidade Católica está a estagiar no Ponto Vermelho, afeto à delegação de Braga da Cruz Vermelha. É uma das 12 colaboradoras da valência instalada em Santa Tecla.

Criado há mais de uma década, este projeto funciona como um local de recolha de roupa e outros objetos para pessoas carenciadas, além de se apresentar como uma loja social com artigos em segunda mão, destinados à população em geral, aplicando preços acessíveis que revertem a favor de iniciativas da organização humanitária.

Operando num espaço multifunções, Desejada faz “muitas coisas”, desde o atendimento de pessoas até à triagem dos produtos que chegam. Mensalmente são distribuídas entre 400 e 500 peças, depois de passar por esse último processo. Contudo, outras tantas não chegam aos potenciais beneficiários, mais de 70 no caso da Cruz Vermelha de Braga. “Por vezes, as pessoas oferecem as coisas em más condições, que não servem para ninguém utilizar”, retrata a jovem que se está a formar em Serviço Social.

O Ponto Vermelho acolhe donativos todos os dias, superando até os 10 sacos de roupa em 24 horas. Segundo Vera Lima, responsável pelo espaço, “50% dos produtos recebidos não podem ser aproveitados”. Meias, cuecas, camisolas interiores e t-shirts são alguns dos exemplos. “As coisas que usamos mais acabam por vir sem critério para cá. Como estão em sacos, com sujidade, até contaminam outras peças que podiam ser reutilizadas”, conta.

“Às vezes queremos despachar tudo o que temos em casa e não vai servir ninguém”

“Dignidade” é uma das palavras mais usadas pela também coordenadora da área da Juventude na delegação de Braga da Cruz Vermelha. Salienta que “a roupa em bom estado ajuda e aumenta a autoestima das pessoas”. Apesar de os materiais não encaminhados poderem ser reciclados, surge outro problema a montante: a falta de tempo.

“Eu não posso estar com os nossos beneficiários e a pensar «ainda tenho 50 sacos lá atrás para triar». Este espaço também serve para estar com as pessoas, como ponto de encontro, ajudá-las a sentir-se mais confiantes, a procurar emprego…”, refere, expressando o desejo e a necessidade de, no futuro, ter um total de 20 voluntários no Ponto Vermelho.

Agradecendo a solidariedade das pessoas, a título individual, e das empresas, Vera Lima faz um apelo para que “todo o processo de doação seja mais eficaz”, começando pelo início. “Às vezes queremos despachar tudo o que temos em casa e não vai servir ninguém. Gostávamos que as pessoas, quando estivessem a selecionar a roupa em sua casa, no conforto do lar, pensassem «isto vai servir alguém, se viesse parar novamente às minhas mãos, eu estaria feliz».”

Além disso, a responsável do Ponto Vermelho pede aos cidadãos que “perguntem o que faz falta”. Neste momento e dadas as condições atmosféricas adversas que se verificam, os bens mais necessários são calçado e casacos para homem, assim como sacos-cama para as pessoas sem-abrigo.

Projeto da Cruz Vermelha serve como referência

O Ponto Vermelho está aberto à semana: segunda e terça-feira, das 14h às 18h, e de quarta à sexta, entre as 10h e as 13h e as 14h e as 18h. Em breve este projeto pode ser replicado na Junta de Freguesia de São Victor.

Nesse sentido, uma das colaboradoras, Paula Ferreira, está “a conhecer o trabalho” que se faz diariamente neste espaço para “melhorar as respostas sociais” no respetivo território. “Acreditamos que o trabalho em rede é que deve imperar e, por isso, estou a ter esta experiência”.

A junta de freguesia já costuma distribuir cabazes alimentares e enxovais, mas o objetivo é concentrar e fortalecer esse tipo de iniciativas, “de forma a dar mais dignidade aos cidadãos”.