“Muitos dos que votaram em Ventura, numas legislativas votariam diferente” 

O politólogo José Palmeira afirma que a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa “reforça o seu papel de centralidade na vida política portuguesa” e considera que André Ventura conseguiu o terceiro lugar porque muitos portugueses se sentiram “mais livres” para o voto de protesto com a reeleição certa de Marcelo Rebelo de Sousa.


O docente e investigador da UMinho fala numa vitória “expectável” e “retumbante” de Marcelo Rebelo de Sousa, o que “reforça o seu papel de centralidade na vida política portuguesa”, em particular num momento de pandemia “onde é fundamental o presidente da república, quer nas declarações do estado de emergência, quer em balizar aquilo que deve ser a ação do governo”.

José Palmeira realça ainda a “votação expressiva do candidato André Ventura, capitalizando em grande medida o voto de protesto, esvaziando quer as candidaturas do PCP quer do BE”, ambos com “maus” resultados. Na ótica de José Palmeira, nos candidatos de partidos (Marisa Matias, João Ferreira, André Ventura e Tiago Mayan) “o mais bem sucedido foi o candidato do Chega”.

Já sobre Ana Gomes, ainda que tenha ficado em segundo lugar, o politólogo refere que o resultado “foi pouco expressivo porque ficou bastante longe de outros candidatos da área socialista que concorreram em eleições anteriores sem apoio do PS”.

Ainda relativamente ao terceiro lugar de André Ventura, o docente da UMinho sublinha que o candidato da extrema direita “beneficiou por força das circunstâncias”. O docente explica que nas eleições presidenciais em que há um vencedor antecipado, “o voto acaba por ser mais livre”, daí que o candidato que idolatra políticos da extrema direira tenha recebido “o voto de muitos eleitores descontentes, que numas eleições legislativas votariam de forma diferente”, argumenta.

“André Ventura tem um discurso anti-sistema, diz aquilo que não gosta e é algo que facilmente vários portugueses aderem, mas do ponto de vista construtivo já tem mais dificuldade em recolher apoio junto da população”, acrescenta o docente.

Como BE e PCP têm estado colados ao governo, acabaram por ser penalizados, “daí que o descontentamento tenha sido transferido todo para André Ventura”, analisou dando os exemplos do sul do país.

O rosto da extrema direita em Portugal disse ontem que a direita não conseguirá formar governo sem o Chega. Ainda que reconheça que o partido de André Ventura possa ganhar terreno para integrar um futuro governo de direita para fazer face ao bloco que está à esquerda, o comentador sustenta que partidos como o de Ventura “alimentam-se do facto de serem partidos da oposição”. “Quando vão para o governo ou quando apoiam um governo acabam por perder a capacidade que têm de atrair votos de protesto”, sublinha.

O investigador recorda o exemplo do que aconteceu na Grécia com o Syriza, uma coligação de esquerda radical. “Foi para o governo, cumpriu com tudo o que a UE exigia, quando antes era contra, e acabou praticamente por desaparecer. Estes partidos alimentam-se da oposição. A partir do momento em que ficam próximos do poder, esvaziam. Pode ser apelativo dizer que um futuro governo do PSD depende do Chega, mas se isso acontecer pode ser o fim dele em termos de expressão política significativa”, conclui.

Partilhe esta notícia
Elsa Moura
Elsa Moura

Deixa-nos uma mensagem

Deixa-nos uma mensagem
Prova que és humano e escreve RUM no campo acima para enviar.
Português Suave
NO AR Português Suave A seguir: Alumni pelo Mundo às 20:00
00:00 / 00:00
aaum aaumtv