Pandemia pode ser “a oportunidade” para fazer avançar a descentralização

“O impacto da pandemia da Covid-19 é global, mas as respostas têm que ser locais”. Esta é a convicção do professor da Escola de Economia e Gestão da UMinho, João Cerejeira. O docente participou, esta quinta-feira, no webinar sobre a importância do talento e emprego para a retoma económica em Braga e na região, promovido pela InvestBraga e o Município.
Segundo o docente, “cada região tem um perfil de especialização próprio” e o contexto pandémico poderá ser a “oportunidade de fazer ainda mais pressão e mostrar que o processo de descentralização do país tem que avançar”. “A pandemia ensinou-nos que o que funcionou melhor foi a resposta que as autarquias conseguiram dar no imediato. Precisávamos de ter contratos sociais, a nível regional ou local, que seriam fundamentais para o arranque da economia”, afirmou.
De acordo com a visão do docente está o autarca bracarense, Ricardo Rio, que considera que “se não houvesse uma resposta de proximidade coordenada pelas autarquias locais os resultados da pandemia seriam muito piores”. “O grande problema do processo de descentralização é ser muito focado em questões de natureza operacional e administrativa e menos em questões de delegação do poder de decisão, mostrando-se nesta pandemia que seria muito vantajoso”, acrescentou Ricardo Rio.
Também ao nível do emprego os intervenientes destacam vantagens. Segundo a Delegada Regional do Norte do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Carla Vale, quanto mais próxima a entidade “estiver das necessidades locais, sejam empresas, populações, autarquias, IPSS ou entidades do sector social e económico, melhor e de forma mais personalizada se conseguirá responder”.
Região Norte com “61 mil novos desempregados” desde o início da pandemia
A região Norte somou 61 mil novos desempregados, desde o início da pandemia. O número foi avançado, na sessão, pela Delegada Regional do Norte do IEFP.
“Temos registo de muitos despedimentos no sector da construção civil, mas também no sector do turismo, hotelaria e restauração e ainda dos serviços. Dos 61 mil novos desempregados na região Norte, desde o início da pandemia, 50% eram trabalhadores sem vínculo permanente”, destacou.
Para Carla Vale, “provavelmente haverá um problema sério no retorno destes trabalhadores ao mercado de trabalho”. Em causa estarão, sobretudo, pessoas entre os 18 e os 39 anos, maioritariamente com o ensino secundário e que já haviam estado em situação de desemprego na anterior crise. Para a responsável, a formação terá “um papel preponderante”.
O autarca bracarense fez saber que “em Abril já havia tantos desempregados em Braga como em 2017”. “À medida que os meses forem avançando muitas situações vão ainda agravar-se e o foco será perceber como poderemos inverter essa tendência”, disse ainda. Em Braga, há, actualmente, 7.000 desempregados.
“Critividade , diversificação e flexibilidade” são palavras-chave para o futuro
Na sessão participou também Hugo Ribeiro, CEO da Magikbee, que frisou que “o talento é crítico e é a principal vantagem” neste contexto. A empresa efectivou e contratou novos colaboradores, nesta fase. Para o fundador da Magikbee, “existe uma luz ao fundo do túnel”. Hugo Ribeiro destaca três palavras-chave para que se obtenham bons resultados no futuro: “critividade , diversificação e flexibilidade”.
Quanto ao futuro, Rio lembra que “Braga entrou no radar do investimento de promoção imobiliária de larga escala, sobretudo ao nível da reformatação dos modelos de gestão urbana, nomeadamente no desenvolvimento de projectos de cariz inovador à escala internacional para captação de novos clusters de investimento e isso pode potenciar num futuro próximo captação de empresas e aumento oferta de postos de trabalho, em sectores diferenciadores”. Para o autarca, nestes sectores diferenciadores, “Braga ainda tem uma palavra a dizer e a UMinho está a dar cartas, algo que pode captar investimento”.
A implementação rápida e ágil das medidas de apoio às empresas nacionais, bem como a melhoria na acessibilidade aos mercados internacionais, será essencial para minimizar o risco de encerramento e a consequente perda de postos de trabalho, servindo, simultaneamente, para o desenvolvimento de novas oportunidades de negócio.
