Pedro Morgado. “A nossa saúde mental permite-nos contribuir para a sociedade através do trabalho” 

A saúde mental das pessoas que trabalham é um elemento que não pode ser desvalorizado pelas entidades empregadoras e pelos próprios trabalhadores. O alerta é do docente,  investigador e psiquiatra da Universidade do Minho, Pedro Morgado.

A propósito das comemorações dos 90 anos da Unidade Local de Braga da ACT, o especialista foi convidado a falar sobre os “Desafios atuais das relações laborais”. Na sua intervenção, o especialista começou por referir a importância do trabalho para a saúde mental das pessoas. “Na maior parte dos estudos, as pessoas que trabalham, comparativamente às pessoas que estão desempregadas têm melhores indicadores de saúde física e mental”.

No entanto, apesar disso, nos dias que correm o trabalho também pode ser fonte de problemas, nomeadamente, o burnout, os quadros depressivos e até questões relacionadas com o abuso de substâncias que, na opinião, do investigador, ainda são descuradas pela sociedade e pelo local de trabalho.

Estes e outros fatores psicossociais, quando relacionados com o trabalho, podem ter dimensões múltiplas e estão muitas vezes relacionados com a natureza do emprego. As relações com os colegas e as chefias, a perceção sobre a valorização do seu trabalho, a compatibilização com a vida pessoal são alguns fatores pessoais e contextuais referidos pelo especialista na iniciativa realizada na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva a propósito das comemorações dos 90 anos da Unidade Local de Braga da ACT.

A grande carga horária e o pagamento desproporcional são, na opinião do investigador, um caso tipicamente português. “Em Portugal trabalha-se muitas horas, se elas são produtivas ou não é outra conversa”, remata.

Para o professor, esta perceção e muitos dos problemas de saúde mental associados ao trabalho estão ligados à uberização do trabalho. Este novo modelo de trabalho com maior flexibilidade e autonomia, efetivamente oferece várias vantagens para uma sociedade sempre conectada, mas está também na base de uma sociedade menos empática, mais individualista, mais competitiva e menos presente. “A grande transformação que está a acontecer no trabalho é provocada por uma transformação que está a acontecer na sociedade e que tem a ver com o individualismo crescente”.
Caso disso é a geração z que, na expectativa de encontrar um trabalho mais flexível, mais alinhado com os seus valores pessoais e com a valorização da saúde mental, é também ela “uma geração que muda muitas mais vezes de emprego, que vive com maior instabilidade financeira e que evidencia piores indicadores de saúde mental e de bem-estar”.


*Escrito por José Silva Brás

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