Portugal deve estar preparado para uma erupção vulcânica nos Açores

A Proteção Civil Açoreana deve estar preparada para uma erupção vulcânica ou tremor de terra. O alerta é deixado pelo geólogo e professor no Departamento de Ciências da Terra da Escola de Ciências da Universidade do Minho, José Brilha.

O convidado desta semana do UMinho I&D, aborda a situação vivida em La Palma, com o Cumbre Vieja ativo há mais de 50 dias. Podem estes fenómenos ser previstos pela ciência, o que origina as erupções e quais as suas consequências para o meio ambiente, são algumas das questões que o docente clarifica aos microfones da Universitária. O especialista aborda também a questão das ilhas portuguesas. Açores e Madeira podem vir a registar um acontecimento deste género? Estão preparados?

A ciência já consegue prever este género de fenómenos?


A resposta é sim. Atualmente, existem tecnologias e estudos que permitem, de alguma forma aos geólogos, antecipar um pouco a entrada em erupção de um vulcão. Por outro lado, “não é muito possível dizer quando (a erupção) irá terminar”. A monitorização da atividade vulcânica quer a nível sísmico quer através da análise do produto e materiais expelidos pelo vulcão, assim como o registo histórico geológico, que passa por olhar para erupções passadas na ilha e no arquipélago.

O Cumbre Vieja está ativo há mais de 50 dias. Um período mais longo do que o de San Juan, em 1949.

José Brilha acredita que o vulcão de La Palma pode permanecer ativo durante “alguns meses”, sendo que o cenário de anos não está descartado. Isto não significa, esclarece o geólogo, que esteja diariamente a emitir material como é o caso de Stromboli e do Etna.

O que origina uma erupção vulcânica?


O planeta Terra possui no seu interior magma que, em situações de grande pressão, tem tendência a ascender, sendo que em “pontos mais frágeis”, ocorrem as erupções. De frisar que os vulcões, regra geral, estão geograficamente localizados nos limites das placas tectónicas. Porém, no caso de La Palma, o Cumbre Vieja está situado no meio de uma placa. Esta é uma situação que os geólogos ainda não entendem totalmente.

A composição da lava é um dos fatores que influencia o tipo de erupção de cada vulcão. As situações mais preocupantes devem-se ao magma mais viscoso que “como tem dificuldade em movimentar-se” podem causar explosões. O caso do vulcão espanhol não se insere neste grupo, visto que a lava é mais fluida.

A erupção de um vulcão como o Cumbre Vieja, na Europa, pode mexer com outros vulcões ou não existe uma ligação?


“Não é possível fazer uma ligação direta”, diz o geólogo.

Que consequências positivas resultam da erupção?


No caso concreto de La Palma, José Brilha refere, em primeiro lugar, o facto desta pequena ilha do Atlântico ter crescido cerca de 20 hectares devido a este fenómeno. Será necessário aguardar algumas dezenas de anos para que o material arrefeça. Recorde-se que nos anos 40 ocorreu uma erupção e os terrenos foram já ocupados.

Também o turismo tem vindo a aumentar, o que contribui para a economia da ilha, uma vez que são estimadas perdas superiores a 150 milhões de euros.

O geólogo destaca ainda as cinzas, em quantidades moderadas, que graças aos seus elementos químicos funcionam como adubos. “Não é por acaso que temos milhões de pessoas a habitar junto a vulcões. Os solos são extremamente férteis”, refere.

Quando questionado sobre os efeitos da lava no mar, José Brilha faz referência a diversos estudos que, nas suas palavras, demonstram que os ecossistemas recuperam “rapidamente”.

Portugal está preparado para uma erupção nos Açores ou na Madeira? 

Na Madeira, “a probabilidade de vir a ocorrer uma erupção é praticamente nula”. José Brilha classifica o vulcanismo na ilha portuguesa como “inativo e praticamente extinto”.

Nos Açores a história é completamente diferente. A última erupção remonta aos anos 50 com o vulcão dos Capelinhos, no Faial. Mais recentemente, nos anos 90, foi registada uma erupção submarina que não chegou a criar uma décima ilha.

“A Proteção Civil dos Açores tem de estar preparada para este género de fenómenos, não só vulcânicos, mas também sísmicos”, visto que os dois fenómenos estão interligados.

“Se as autoridades estão preparadas? Dizem que sim”, adianta. O geólogo considera que tudo iá depender da dimensão do evento. Caso seja semelhante à erupção vivida nos anos 50, o docente acredita que “não haverá grandes problemas”. 


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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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