Presidente da República vai renovar estado de emergência

As reuniões do Infarmed sobre a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal regressaram esta quinta-feira, em Lisboa.

No final da reunião, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que vai enviar ainda hoje ao Parlamento o diploma da renovação do estado de emergência, que será votado amanhã.

Marcelo quer perceber calendário da vacina. Infarmed aponta início de 2021

No regresso às reuniões no Infarmed, esta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu todas as suas questões sobre a pandemia de Covid-19 aos especialistas. O Presidente da República quis saber se faz sentido adequar as medidas a cada conselho, se haverá um terceiro pico da pandemia e quais as datas previstas para uma vacina. 

Em resposta, o presidente do Infarmed admitiu que as primeiras vacinações aconteçam já no início do próximo ano.

Começando por destacar que, apesar de haver “aspetos positivos de evolução” da pandemia em Portugal, o R continua a ser superior a um e há risco de um novo pico no final de novembro ou no começo de dezembro, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que “vários dos intervenientes disseram que as medidas têm de ser mantidas, pois duram cada vez mais tempo para produzir efeito”.

O chefe de Estado relembrou ainda que, segundo os especialistas, “a perceção dos portugueses é de degradação relativamente à capacidade dos decisores políticos e de degradação em relação à capacidade de resposta dos serviços de saúde, com números muito acentuados”.

Marcelo Rebelo de Sousa passou, assim, a colocar várias das questões que o preocupam nesta fase da pandemia no país. “Quanto à vacinação, em termos concretos, porque essa é uma janela de esperança importante para os portugueses (…), para quando? Qual o calendário?”, quis saber o Presidente.

“Nós temos a experiência que o processo de vacinação é lento, é por grupos”, argumentou Marcelo. “Para quando o eventual começo, por quanto tempo a eventual duração?”.

Em resposta, o presidente do Infarmed, Rui Santos Ivo, admitiu que as primeiras vacinações contra a Covid-19 aconteçam já no início do próximo ano, dependendo das autorizações da agência europeia que tutela o setor.

Segundo o responsável, as entregas de vacinas acontecerão em tranches ao longo de 2021 e poderão estar disponíveis mais de cinco milhões de doses no primeiro trimestre, cerca de oito milhões no segundo trimestre e mais dois milhões no último trimestre do ano que vem.

Rui Santos Ivo indicou que há contratos firmados para quatro vacinas, três das quais (Pfizer, AstraZeneca e Janssen) estão num fase mais avançada de desenvolvimento, e para uma outra vacina da marca Sanofi.

Todas estão sujeitas a avaliação e autorização da Agência Europeia do Medicamento, salientou, um processo que ainda poderá ter desenvolvimentos este ano.

“Devíamos adoptar uma faca mais cirúrgica” e adequar as medidas concelho a concelho

Marcelo Rebelo de Sousa quis ainda saber se as medidas que os especialistas consideram que devem ser mantidas no país são “as medidas ensaiadas em Portugal nos últimos tempos” e se nessa estratégia cabe “a graduação por grupos de municípios” conforme o nível de risco.

“Faz sentido graduar ou há medidas que devem ser homogéneas para todos?”, questionou. “Até onde devem ir as medidas? (…) Em que situações extremas admitiria medidas extremas”, como aquelas tomadas no início da pandemia, quis saber o Presidente.

Também preocupado com a possibilidade de um novo pico da doença no país, o chefe de Estado aproveitou para perguntar se “haverá outro pico a seguir a este pico”. “Em Janeiro, Fevereiro, é aventável a existência de novo pico? Sim ou não, de acordo com a evolução em novembro e dezembro?”

Em resposta, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes considerou não haver alternativa a manter-se, no país, as medidas que estão agora em vigor para combater a pandemia.

“Nós neste momento estamos com um conjunto de medidas que eu classificaria como o intermédio entre não fazer nada e aquilo que adotámos em março. Se nós não quisermos ir para a situação de março (…), não vejo alternativa a uma situação idêntica àquela que vivemos nesta altura”, declarou.

“É por isso que eu sempre defendi que devíamos adoptar uma faca mais cirúrgica (…) e começarmos a dirigir-nos a uma acção aos concelhos”. O especialista defende a existência de níveis de risco e, simultaneamente, medidas comuns a todos os concelhos.

Esse nível de risco deve basear-se em “informações importantes”, segundo Carmo Gomes, sendo uma delas “a aceleração com que os casos estão a evoluir nas semanas anteriores”.

Quanto à eventualidade de um novo pico, o epidemiologista frisou que, de acordo com as previsões, Portugal irá atingir um pico no final de novembro ou início de Dezembro.

“Se mantivermos pressão, o R virá para baixo de um e, se se mantiver aí, a incidência começará a descer. Depois, tudo depende do que é que nós vamos fazer. Neste momento, os italianos estão no pico e aquilo que vai acontecer depende do que eles fizerem (…). O R está sempre preparado para disparar por aí acima”, explicou Carmo Gomes.

“Depende de nós se vamos ou não ter um pico em janeiro e fevereiro”, concluiu.

“Estamos já em situação de rutura” nos cuidados intensivos

A João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, o Presidente perguntou “o que pensa quanto à situação de stress nos cuidados intensivos”.

“Isto é, olhando para os cenários de evolução de casos e de internamentos em cuidados intensivos, como é que vê a probabilidade de pressão?”, questionou. Em resposta, o responsável alertou que existe o risco de já não se conseguir receber todos os doentes com Covid-19 que precisem de cuidados intensivos.

“Neste momento, temos 84 por cento de taxa de ocupação das camas de unidades de cuidados intensivos dedicados à Covid-19. Temos o risco de já não conseguir receber todos os doentes que precisem de Medicina Intensiva com Covid-19 e esta situação tem uma variedade regional enorme”, afirmou João Gouveia, da Coordenação da Resposta em Medicina Intensiva.


Segundo o responsável, há serviços no Norte do país que estão a 113 por cento da sua capacidade e outros que estão com menos noutras zonas do país, entre os 40 e os 60 por cento, lembrando que estes “na verdade, são serviços mais pequenos”.

Por isso, o número verdadeiro de camas que está disponível é menor, sublinhou o especialista.

Apesar de ainda haver “almofada”, com capacidade de expansão, de poder chegar às 967 camas, João Gouveia mostrou-se preocupado por tal estar a ser feito com “sacrifício da assistência aos outros doentes”.

“Isso é uma fatura que vamos pagar depois no fim. Vamos ter de conviver com este vírus durante bastante tempo, e não podemos manter a expansão, porque não é compatível com uma atividade médica normal”, salientou.

“Resumindo, estou preocupado, não acho que estejamos em situação de catástrofe, ainda, mas estamos já em situação de rutura”, lamentou.

Risco entre estudantes do ensino superior

Marcelo Rebelo de Sousa questionou ainda Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, sobre o risco de contágio entre estudantes.

“Da análise do grupo que liderou, parece resultar que as escolas são o lugar onde há, comparativamente, menor risco de contágio. É importante saber se assim é” e em que estabelecimentos de ensino tal acontece, se nas escolas secundárias ou no ensino superior também, frisou o Presidente.

Em resposta, o especialista Henrique Barros explicou que o maior risco entre estudantes acontece no ensino superior pois, entre os estudantes de faculdades infectados, a grande maioria frequentou os estabelecimentos de ensino onde estuda nos 14 dias antes de ser diagnosticado com a Covid-19.

“As decisões podem tomar-se com base nisto, nomeadamente em relação ao ensino presencial”, acrescentou.

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