Privação do sono pode estar relacionada com doença de Alzheimer

“É um salto bastante grande dizer que a privação do sono e a predisposição para a doença de Alzheimer estão ligados”, começa foi afirmar aos microfones da RUM a investigadora do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Sara Calafate. Contudo, a “poderá haver uma relação”, visto que em estádios iniciais da patologia, para além de existirem alterações nas sinapses há também alterações na biologia do sono.
A investigadora esteve nos últimos 10 anos, na Bélgica, onde começou a desenvolver esta linha de investigação focada na hormona de contração da melanina, um péptido conhecido por controlar o sono e que é capaz de reduzir a atividade dos neurônios no hipocampo. Recentemente, o trabalho foi publicado na revista “Nature Neuroscience”.
De acordo com a investigadora, sabe-se que os pacientes de Alzheimer, mesmo antes de terem um diagnóstico, já apresentam distúrbio do sono que, muitas vezes, os médicos e eles não se apercebem. “Na minha visão as coisas estão interligadas”, declara em entrevista ao UMinho I&D.
Neste momento a equipa, que conta com o professor da UMinho Tiago Gil Oliveira, está particularmente interessada em analisar, em ratinhos, o Rapid Eye Movement (REM) sleep, momento em que o indivíduo tem mais probabilidade de sonhar.
Sara Calafate alerta para o facto do péptido que está na base da investigação ter funções de regulação da memória e, a título de exemplo, do apetite. “Mexer ou interferir com estes processos / moléculas, poderá estar a criar um dano colateral maior do que os benefícios”, frisa.
O sono durante o desenvolvimento das crianças poderá ser uma das áreas a explorar, no futuro. “As crianças têm padrões de sono diferentes dos adultos. Será que este péptido estará envolvido na regulação dos padrões de sono em crianças e, mais tarde, em adultos. Obviamente será um ponto bastante interessante”, avança.
