Projecto RISE diminuiu absentismo escolar de jovens de etnia cigana

Num universo de 50 crianças de etnia cigana que frequentam o Agrupamento Escolar de Prado, apenas duas reprovaram e uma teve absentismo escolar. Estes são os resultados, no nosso país, do projecto Internacional Rise – Roma School Experiences – que foi desenvolvido em parceria com Itália e a Eslovénia. O UM I&D conversou, esta semana, com a coordenadora do projecto, em Portugal, a professora do Instituto de Educação da Universidade do Minho (IE), Maria José Casa-Nova.
O RISE acompanhou crianças, entre os 6 e os 14 anos, do pré-escolar, 1º e 2º ciclo. Recorde-se que o projecto foi financiado pelo programa Direitos, Igualdade e Cidadania da Comissão Europeia.
Em Portugal, a equipa decidiu implementar o projecto no concelho de Vila Verde, uma vez que várias famílias de etnia cigana vivem, sem as condições mínimas de conforto, em tendas/barracas e não possuem água canalizada ou electricidade. Esta é a realidade de 32% dos ciganos em terras lusas.
Em declarações à Universitária, a investigadora refere que o segredo para os bons resultados obtidos neste agrupamento passam pela “construção de um diálogo intercultural”, nomeadamente, entre a escola e as famílias. No âmbito escolar, foram trabalhadas as relações pedagógicas passando do processo ensino-aprendizagem para aprendizagem-ensino. E porquê? A docente explica que a diferença está no facto do “protagonismo ser atribuído ao aluno, sendo que os professores passam a ser os dinamizadores e potenciadores desta aprendizagem”.
Apesar de continuar a ser uma população muito “marginalizada”, Maria José Casa-Nova declara que têm sido dados passos importantes para integrar estes cidadãos na sociedade portuguesa. Para isso a educação escolar é fundamental.
“A educação escolar permite não só adquirir conhecimento académico, mas também valores relacionados com os direitos humanos e, por isso, uma escolaridade bem sucedida é uma dimensão essencial para construir processos de integração que se querem recíprocos”, explica.
A docente frisa que este processo de “integração” não pode ser unilateral caso contrário não irá surtir efeito. Deste modo, o processo deve ser “reciproco e horizontal”, ou seja, todos têm de estar interessados em conhecer o universo cultural um do outro, desde os professores, às crianças e pais. Só assim será possível atingir o “bilinguismo cultural”. Este consiste em “dominar mais do que um universo cultural”, o que permite contar com crianças mais “flexíveis”. Para além disso, os alunos percebem que o seu universo cultural é importante para a escola. “Antes das crianças serem alunas elas são pessoas/cidadãos”, realça a coordenadora do projecto.
“Eram dois mundos que não se conheciam”. Citação de Maria José Casa-Nova sobre a presença feminina nas escolas portuguesas.
Hoje em dia, dos 256 jovens de etnia cigana a frequentar o ensino secundário 46% são raparigas. Dados que demonstram que o papel das mulheres tem vindo a mudar. Recorde-se que a honra de uma família de etnia cigana é depositada no sexo feminino. Facto que contribui para que inúmeras raparigas não prossigam os estudos.
Pandemia pode levar a retrocessos.
Maria José Casa-Nova alerta para o facto da pandemia de Covid-19 ter criado uma “emergência escolar”. “As crianças passaram a estar em casa e a maioria destes alunos de etnia cigana não têm recursos materiais como computadores ou internet”, garante. Em suma, a pandemia pode deixar cair tudo o que foi construído com o projecto RISE.
Aos microfones da RUM, a investigadora confessa que o ideal seria alargar o projecto a várias escolas do país ( pré escolar, 1º e 2º ciclos). Uma intenção que já tinha sido anunciada pela Secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira.
