“PSD não hesita em caminhar para aliança com extrema-direita”

O discurso de Catarina Martins no encerramento da XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, este domingo, foi marcado por duras críticas ao PSD e à extrema-direita. A dirigente bloquista acusou Rui Rio de querer levar a extrema-direita para o Governo, perdendo, por isso, a capacidade de disputar o centro ao PS.
“Desde que o Bloco é o terceiro partido e que afastámos o PSD e o CDS do Governo – e não foi ontem -, a direita só tem um objetivo: criar uma fronda que lhe permita voltar ao poder e, por isso exige nada mais, nada menos do que aniquilar a força da esquerda”, começou por sublinhar a coordenadora do BE.
“Quando chegou a presidente do PSD, Rui Rio anunciava esse objetivo de forma cândida. Dizia que só queria impedir que o Bloco determinasse as políticas do Governo de Costa e, para ele, bastava. Agora, a direita está mais afoita, porque a sua política está a mudar”, considerou.
Catarina Martins continuou a lançar críticas ao presidente do Partido Social Democrata, que acusou de se querer unir à extrema-direita. “Os ventos de Trump e Bolsonaro primeiro, ou de Ayuso em Madrid mais recentemente, entusiasmam os imitadores que soltaram os animais ferozes da violência política e do lixo comunicacional. As fake news e a intoxicação são o seu modo de ser. Neste mundo novo, o PSD não hesita em caminhar para uma aliança com a extrema-direita, que é aliás um braço laranja que se destacou, mas cujo futuro só depende de influenciar o seu antigo partido”, declarou a bloquista.
“Não tem sido difícil. Já há gente do PSD a gritar que quer exterminar o Bloco. A força da esquerda gera, do outro lado, adversários raivosos. O nosso povo já conhece bem este filme. Respondemos, pois, como sempre: com a força da liberdade e da democracia. Por isso, o Bloco é e será a barreira contra a direita e a extrema-direita. Nada podia ser mais claro nesta alternativa”.
A coordenadora do Bloco acusou ainda a direita e a extrema-direita de insistirem numa zanga contra “quem trabalha, contra a mulher, contra o imigrante”, contrastando com a esquerda, que continuará a focar-se no respeito pelas pessoas e em como melhorar salários e pensões.
“Eles que falem da privatização dos hospitais. Nós falaremos dos melhores cuidados para as crianças, para os idosos, para quem está doente. Eles que falem das saudades do colonialismo e da ditadura. Nós lembraremos os movimentos de libertação, a revolução e o orgulho na tarefa incessante de construção da democracia e da liberdade. Eles medem o seu sucesso pelo número de desempregados a quem tiram o RSI e que lançam na pobreza. A esquerda mede-se pelo número de pessoas que saem da pobreza. Eles medem-se pelo ódio, nós medimo-nos pelo respeito. Eles escolhem o pântano, nós usamos a transparência. Eles dedicam-se ao seu próprio poder contra toda a gente. Nós dedicamo-nos a quem precisa, a quem tem sido esquecido e silenciado, ao povo que sofre”, continuou Catarina Martins.
Rui Rio quer “levar a extrema-direita para o Governo”, acusa Catarina Martins
Para terminar as críticas a Rui Rio, a líder do Bloco falou numa “escolha vertiginosa” do presidente do PSD ao querer levar a extrema-direita para o Governo, perdendo, por isso, a capacidade de disputar o centro ao PS.
“O PSD já não sabe fazer de outra forma e não se atreve sequer a pensar nisso. O PSD é hoje um fantasma que só vibra quando alguém grita ‘morte ao socialismo’. À esquerda, essa desistência da direita coloca ainda maiores responsabilidades. Toda a política nacional será determinada pela força da esquerda para conseguir soluções para o país”, defendeu.
Para Catarina Martins só existe, portanto, uma forma de “continuar a vencer esta direita tingida de extrema-direita”: que a esquerda continue a lutar pela maioria, que não se desvie da obrigação de ser “a voz e a força do povo que vai para o trabalho apertado nos comboios, que não sabe se a filha que concluiu o curso consegue sair da empresa de trabalho temporário, que se entristece com o interior que se despovoa, que vê as doenças e o clima a correrem contra nós, que sobrevive de uma pensão contada ao cêntimo”. “E este povo não aceita a continuação do marasmo”, frisou.
Para a líder bloquista, “não há nenhum outro partido que cumpra regras de debate plural” como o BE. “Não temos unanimismos e não lamentamos. Não temos um pensamento único e não o desejamos. Não temos devoção a um ritual, porque é a política que nos une. Discutimos e decidimos e vamos à luta. É assim a esquerda que quer aprender, que sabe que a sua força está nos alicerces”.
Emprego é a “prioridade das prioridades”
A coordenadora bloquista considerou ainda que o emprego é a “prioridade das prioridades” para sair da crise, acusando o Governo de ter esquecido o seu compromisso de mais escalões de IRS.
“Se a urgência é o emprego – e sabemos que é – cuidar da qualidade do emprego é a primeira medida para sair da crise. Justiça na resposta à crise, que terá de ser também justiça fiscal. O Governo parece ter já abandonado o compromisso do seu próprio programa de mais escalões de IRS. Pela nossa parte, não esquecemos”, alertou, acrescentando que o Governo socialista recusou todos os compromissos propostos pelo BE no Orçamento do Estado para 2021.
“Não só a saúde, o emprego, a proteção social e o controlo financeiro são agora ainda mais importantes depois do sofrimento com a pandemia social que se segue à pandemia viral, como o tempo que vivemos acrescenta outra exigência à política portuguesa: não desperdiçar recursos e multiplicar o investimento em três prioridades para criar novos empregos: habitação, clima e cuidados sociais”, referiu.
Em relação ao emprego, “o que existe e o que tem de ser criado”, Catarina Martins insistiu na urgência de “leis laborais fortes, para que o investimento se traduza em mais salário”.
Sob o lema “Justiça na resposta à crise”, os trabalhos da XII Convenção Nacional do BE chegaram ao fim este domingo em Matosinhos, com metade dos delegados eleitos devido à pandemia.
RTP
